terça-feira, 21 de novembro de 2017

notas rápidas após visualização de "the square" de Ruben Östlund

sarrabiscos pós filme: 

deve ser dos raros filmes em que o realizador conseguiu não fazer bosta ao querer falar de 1000 coisas ao mesmo tempo, antes pelo contrário, é um chapadão de filme.

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(a propósito da dialéctica entre o ringue onde as miudas dançam e o “quadrado”, obra de arte propriamente dita) se há coisas que a vida naturalmente parece fazer bem, porque é que a arte as tentará substituir? substituir/representar. Mercado + Arte = desastre, está predestinado )

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Parece que hoje em dia somos cúmplices de muitas coisas para as quais não estamos preparados para compreender. Preparados digo, com a mente preparada, clara, calma, e livre de vícios ou tendências que a possam distrair da sua real ambição, contemplar.

Socialmente às vezes é exigido à pessoa que tome uma posição política em relação a certas questões, e que essa escolha acarrete a sua total honra e integridade, que o homem fale do coração! Certas questões que nem sempre necessariamente se manifestam no seu ecossistema, apenas nos seus ecrãs, nas imagens, nos ícones. - REJECT FALSE ICONS - Digo compreender naturalmente, sem esforço, sem a coisa se afigurar como confusa, ou doutro planeta. Há muitos processos de identificação no contemplar, mas com a vantagem de não existir necessariamente o medo associado. Muito mais do que noutros tempos, acredito.  E como? Através das tecnologias da informação, dos Media claro. Fomos desde cedo na nossa educação bombardeados com imagens das quais não nos era exigida uma tomada de posição em relação ao conteúdo das mesmas, então cada um de nós se relacionou com estas na sua pessoalidade. Fomos habituados a contemplar a desgraça e a maravilha, o horror e o sucesso dos outros no conforto da nossa bolha, que desde o alto contempla o mundo, na sua fragil mas imperturbavel segurança. Com a maior das tranquilidades, com a maior da indiferença, uma vez que algumas destas pessoas ou locais já nem existem. Apenas com um sentido romântico de "como teria sido viver tal coisa...". E usufruimos emocionalmente dessas imagens, janelas, miragens para dentro da vida de pessoas ou para dentro de situações confusas, estranhas… injustas… incorrectas… imorais… Mas, que no fundo, não nos dizem nada, não partilhamos o mesmo espaço, não interagimos, apenas vemos retratos uma da outra. E eis que cada vez mais o espectáculo* está instalado e domina. As imagens mercadoria dominam-nos, o Debord tinha razão. O bom senso foi meticulosamente estudado e está sob constante e cuidada vigia.
*Debord 

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metáfora filosófica barata do dia: somos educados para ser espectadores, e não para ser actores. Somos educados para aplaudir, não para conquistar. O bom actor é o Eremita Mercenário que vive e sobrevive sozinho na sua quinta auto-sustentável no meio das montanhas, que conhece melhor a rede hidrográfica da sua montanha do que se lembra do seu próprio nome. O bom espectador é o beto do facebook instagram whatevershit, o gajo que não sai do ninho, o gajo que condena publicamente os campos esgotados da exploração do oleo de palma mas não resiste a comprar bolachinhas digestivas e nutella. Apesar de não fazer ideia de quem é, de onde veio, e o que quer, discute ferozmente questões sociais e políticas, seja sobre coisas que ele conhece ou sobre coisas que nunca irá sequer testemunhar, e aponta o dedo com o maior sentido de condenação perante situações apenas superficialmente confusas, como uma fina camada de lodo na superfície do lago profundo e cristalino, que de forma muito leve e graciosa pode ser removida. 

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Quando pedem a um espectador que se levante, das duas uma, ou se vai rir como um parvo ou vai rubrar de vergonha, fazendo de conta que não é consigo a conversa. Mas eis que o espectador fala sobre coisas que não viveu. chegou o tempo em que o espectador se emancipou, em que constrói e veste um personagem e o joga no mundo, com a mesma arbitrariedade que o criador do universo.

Mas prevalece o tempo em que depois da morte não há respawn… Essa é certa.






...Ou será que vai haver?... 


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