sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

o real incomunicável



Hoje presenteei à minha ignorância o filme "The Master" do Paul Thomas Andersen.
Um dia destes escrevi que os mais falsos fundamentos podem dar origem às mais sólidas realidades, inspirado por um certo cepticismo e a pensar em sistemas religiosos, como o cristianismo e a igreja católica. Acredito, hoje, que de facto a razão empírica e científica não é de todo altamente imprescindível para a construção de um sistema filosófico/religioso, um entender o mundo, organizando, nomeando e significando os fenómenos e as suas relações entre si e com o homem.
Um dos momentos que esta segunda visualização do filme me deixou na memória foi, aquando a publicação do segundo livro do Culto, o comentário de um dos intelectuais lá presentes em relação à obra, que com tanta paixão, sangue, suor e sede de verdade foi escrita pelo personagem do Hoffman. foi algo do género:
"para mim o livro podia ser resumido a 3 páginas e ser entregue à entrada do metro. A estrutura do pensamento do homem é totalmente incomunicável, mas uma coisa é certa, o homem é um grande místico, um verdadeiro místico" (de notar o tom extramemente respeituoso com que emprega as ultimas palavras, "um verdadeiro místico")
Eis. Ei-lo. O momento de ruptura. O momento em que as edificações que um homem faz da realidade (tão válidas como as de qualquer outro sistema religioso social e historicamente instituido e, analisado profundamente, não tão diferentes até da ciência) carecem das qualidades do comunicável.

O poder dos sistemas místicos reside no facto dos mesmos se poderem alicerçar em fundamentos abstractos, cuja fonte de inspiração provém de uma experiência interior, e não de um estímulo ou fenómeno exterior, para o qual todos os homens podem facilmente virar os olhos e ver.

Eis a mais profunda e colossal tristeza que o Homem pode experiênciar. O não conseguir comunicar o seu entendimento do real. O criar um real incomunicável.

Existe, contudo, uma dimensão transcendental nisto, creio, que consegue trazer algum consolo ao místico. Não queria dizer uma comunicação espiritual. Mas acho que, desenvolvendo métodos de meditação concretos e bem definidos, se consegue dar aos homens não a mesma verdade que o sábio detém, mas a mesma experiência que inspirou o entendimento do sábio. Partilha da experiência inspira a compreensão mútua, a harmonia entre as almas. Se para os cristão é o jejum e para os tibetanos é a meditação, para os dois personagens (hoffman e phoenix) era aquela bebida. Não foram as ideias que os ligaram um ao outro, foi a partilha de um estado.

Um dia tentarei reunír forças e inspiração para prestar a devida atenção a este assunto. Por enquanto ficam estes apontamentos acidentados.

Sem comentários:

Enviar um comentário