Um qualquer pássaro, certamente preto e de porte considerável, lança um pio que descobre no seu eco novas propriedades sonoras, mas antes de o mesmo ter tempo para fantasiar sobre o seu inédito repertório resolve levantar voo, desapontado: afinal era um carro que se aproximava ao longe e espalhava pela serra o som do atrito entre borracha e o alcatrão e ainda frequências mais graves, ritmadas, qualquer tema musical de sucesso. De qualquer forma, em breve toda a pauta musical daquele cenário entraria numa inesperada cadência, composta por sons de peças metálicas a rangir, vidros a partir, uma massa pesada a rebolar ao sabor das leis da física, um muro de pedra a ruir e um final estrondoso de água a chapinhar.
Além do rio que ficou mais agitado, o tema inicial daquele idílico cenário retomou indiferente o seu compasso, enquanto um jovem humano, com o corpo quebrado, se arrastou pela gelada água até à margem do riacho onde se esforçaria por recuperar o fôlego e a consciência.
(a continuar)
Sem comentários:
Enviar um comentário