quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Historias sob o luar pt1






Um fulano chinês contou-me que uma altura em que morava com uma tia assistia a um curioso fenómeno humano: A senhora sua tia tinha por hábito mais ou menos regular - a meio do sono profundo - começar a prosar alto e bom som, de um jeito muito solene pouco característico da sua educação básica, acerca dos mais fantásticos e bizarros acontecimentos e temáticas. Ele contava que mesmo que continuasse a dormir fingindo não ouvir a mulher insistia e palestreava virtuosamente durante cerca de 2 minutos. Uma altura palreou qualquer coisa altamente elaborada sobre como a possibilidade de mensurar a força gravítica de um objecto celeste implicaria primeiramente desenvolver uma noção de tridimensionalidade do tempo... Sobrenatural! No fim assobiava muito alto, dizia um palavrão qualquer, e deitava-se novamente. A mulher sua tia desmente tais acontecimentos, argumentando que "eles querem é livrar-se de mim e meter-me num lar!"


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No andar de baixo vive um pulmão gigante, um formidável e sinistro engenho biológico que qualquer força macabra ali plantou, suportado por dezenas de pequenos baraços amarrados ao tecto e paredes da sala e ocupando praticamente toda a área da mesma. Num andamento Larghissimo ele inspira profundamente todo o ar da sala fazendo uma gigante mas silenciosa massa de ar atravessar todo o prédio.




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A mulher dos olhos de cristal. No lugar dos olhos ela tinha umas esferas polidas de um mineral esbranquiçado com pequenos pontos verdes desenhados no lugar da iris. Então estava sempre fitando lá ao longe o horizonte.. a mulher dos olhos de cristal.. mesmo quando vinha a subir a raquítica escadaria até ao quinto andar, a mulherzinha trazia sempre os olhos decididos a fitar o além! Como se as mais formidáveis maravilhas estivessem a acontecer muito para lá das decrépitas paredes.




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Havia um senhor merceeiro muuito muuito velho que vendia legumes e frutas na Rua de Gondarem. Aparecia sempre às terças-feiras pelas 10:30 da manhã, montado num carro de madeira velho e podre, e puxado por um cavalo igualmente caquético. Diz-se que são extremamente velhos... O Dr. Barros contou numa ocasião na padaria que já os seus bisavós - da mãe - lhe compravam leguminosas naquela mesma zona... há uns bons 80 anos... tudo parecia indicar que ao contrário dos restantes mortais, tanto o homem como o cavalo, por alquímias ancestrais, mantinham exactamente o mesmo aspecto, sabe-se lá à quantos séculos! A verdade é que ninguém até hoje conseguiu saber mais acerca deste elfo merceeiro, muitos vizinhos dizem até nunca o ter visto.







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Todos os dias o Zé Mendigo mendigava junto ao semáforo. Todos os dias com um aspecto diferente, mas sempre miserável, sujo e descalço. Fazia questão de saudar sempre todas pessoas que passavam com um sinal de "fixe" esticando o dedo mindinho e o polegar da mão direita (a única que lhe restava, dizem que a sua família tinha um grande negócio de pirotecnia lá prós lados de Barranco do Inferno). Certo dia uma mulher pára no semáforo e para sua perplexidade vê o Zé Mendigo e o seu cabelo oleoso vestido e engravatado num fato impecável, apenas ou dois ou três números acima do seu. Sentado no chão de olhos fechados desfrutando do sol primaveril do meio-dia o desgraçado não reage ao som dos carros a parar no semáforo! Éste marafade d'um cabrão... Animada, a senhora abre a janela do carro e estende-lhe uma nota de 5 euros:
"Pegue lá para o almoço Senhor José!"
O eremita abre os olhos surpreendido e solta uma gargalhada:
"Grato pelo gesto nobre senhora, mas já almocei!" 🤙🏽




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Todos falam de pudim. Pudim de ovos, pudim francês, pudim flan... Mas não havia melhor pudim no mundo do que o da Dona Alice. Era um pudim pouco falado, já que Alice apenas o fazia pelo Natal e Páscoa, ficando o seu consumo reservado ao voraz apetite da sua família, lixeiros de profissão. Certo dia Alice é alvo de feitiçarias da bruxa da aldeia, encomendadas certamente por qualquer invejosa da sua receita divina. Acontece que fruto dos bruxêdos o corpo da Dona Alice é tomado por um espírito demoníaco que a obriga a ficar acamada. Nenhum exorcista conseguiu ainda expulsar o demónio que impede o acesso à sagrada receita do Pudim d'Álice.






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...continua...




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