quarta-feira, 27 de abril de 2016

in vitro


im renewed - claimed some drifting spirit
the hatred filled me so into an apotheosis
but its not hatred i feel now
i feel power, colossal, devastating power
of orders so above and beyond
only devilish souls could withstand
only kings and mad people

it rumbles and echoes through time and matter
this energy that surrounds me
i just fall asleep into a dream of chaos and beauty
suddendly there is no right or wrong, no good or bad
fear and hapiness blend into a state of immanence
a being, surrounded by nothingness

to renew oneself is to revisit the holy unknowness
chaos cleans ones wisdom off
power is to have no wisdom at all
power is to return to the holy unknown territory
where meanings are loosely flying around, waiting to be rearranged
to rediscover, reinvent
only then you get weaker

the more you can strip off your truths and wisdom
the more powerfull you are
because suddendly your enemies dont know who they are going to fight
and their old weapons may not harm you again

finally surrounded by the holy unknown
the renewed spirit laughs before he opens his eyes
"what shall I see now?"
"into what kind of perfect ignorant shall I become now?"

(or maybe, will?)

Courage is really the most admirable quality of man's character
To go, not knowing where, for the sake and love of change


(dedicated to meshuggah)

sexta-feira, 8 de abril de 2016

"John From" - breve impressão

Tive que escrever um relatório/resumo sobre o filme para a faculdade, por isso resolvi adapta-lo um pouco e partilhar, coisa curta e sem palavreado caro (why not?)




A nova longa-metragem do João Nicolau segue a linha estilística e temática dos seus anteriores filmes, movimentos físicos da câmara a passear-se de uma forma muito coreográfica, uma grande preocupação com a composição e gestão de linhas de força dentro do ecrã, etc, e no plano temático a adolescência amorosa e a diluição das fronteiras do empírico com o onírico. 

Contudo, ao contrario por exemplo da sua curta-metragem “Rapace”, e como o próprio confessou, é um filme onde a forma cinematográfica e a narrativa parecem estar em maior consonância, isto é, as “regras” dos universos ficcionais que o filme vai criando são agora uma consequência do pathos dos personagens, não é algo preexistente ao tempo em que o filme começa, o que lhe confere qualidades mais clássicas, se quisermos, em que alguma força ou acontecimento exterior ao universo do personagem vem alterar a ordem do mesmo.

Assim, o filme começa num ambiente perfeitamente banal e deliberadamente descaracterizado para evitar "leituras sociológicas" que não interessam para a história, o que revela da parte do João um maior interesse na dimensão poética e plástica do cinema, o que é de saudar, a meu ver. 

Este universo banal em que o filme começa vai-se metamorfoseando, ora com momentos mais documentais a seguir a personagem, ora com momentos um quanto surreais e aparentemente inconsequentes,  ora com fantasia pura, e aí termina o filme, num universo que pertence ao domínio do fantástico, em que o amor "virá do céu", tão poética como literalmente. 

Esta progressão, este arco de transformação do "real" e não só da personagem principal, é o que dá, a meu ver, a magia ao filme, deixando o espectador indeciso quanto ao seu género. Uma amiga confessou que sentiu existir demasiada inconsequência no decorrer dos eventos, para o seu gosto pessoal e tendo em conta o seu formato de longa-metragem. Gostava de se ter envolvido mais dramaticamente no universo da personagem. Isto é perfeitamente válido, mas creio que não pode ser considerado uma "crítica" ou um erro. É uma questão de gosto. 

Esta fugacidade, a tristeza e amargura seguida de momentos de fantástico em que tudo está misteriosamente resolvido, é sem dúvida uma marca autoral do João Nicolau, e é o que torna os seus filmes peculiares, interessantes. O que parece interessar ao João é a capacidade humana de, sem motivos muito claros ou fundamentados, passar de um estado de miséria ou apatia (por exemplo) para um estado de graça, sendo que os impulsos que impeliram essa mudança não são, imperativamente, da ordem do racional ou empírico. E num sistema social onde as vivências poéticas são cada vez mais abstémias (apenas os loucos e os boémios se podem dar a esse capricho irracional), onde o racional, o eficaz, e o politicamente correcto lideram grande parte dos debates e iniciativas (ou é apenas impressão minha?), obras como esta são de celebrar (bem hajas Som e Fúria!) 
Precisamos de mais poesia e menos parlapié sobre a crise!

Ide ver, ide! E vejam as curtas também!

O ar está diferente

O ar está diferente
As coisas de súbito perderam a banalidade
Como se o planeta tivesse começado a rodar na direcção contrária
E acidentar-me a novos ventos, desta vez como que a favor deles

Hoje vi uma cadeira ao sol
Ao lado outra
O som de uma máquina a moer café
Um transeunte a saudar as pombas
Uma música ao fundo da rua, vinda de uma janela
Uma brisazinha
O sol, Ahh, o reconfortante sol, bem lá em cima num admirável céu azul. Que azul incrível!
Sentei-me e banhei-me de vida, que saudades!

A deriva parece estar a rotinar-se
Há coisas estranhamente familiares na rua, intrigantemente reconfortantes
A poesia voltou!! Estarei a sonhar?
Ou pior, estarei apaixonado?!
Não...

Talvez seja alguma benção da primavera
Talvez o tinto maduro
De certo será a luz

Entretanto a noite chegou, calma, tranquila
Os carros, as pessoas nas esplanadas
A desordem ganhou uma ordem
E na noite banal brilha novamente aquele misticismo
aquela poesia tão deliciosa como indiscritível
Aquela sensação de novidade,
de entrar num universo que não é o nosso,
tão acolhedor, espontâneo e autêntico…
que sensação maravilhosa

Bendita volatilidade da alma!
Bendita primavera!

Bendito ar, que está realmente diferente!