terça-feira, 5 de maio de 2015

canta, canta

Some-te desejo, some-te emoção
inquietas o pobre mendigo
quem lhe deitasse uma mão...

Viesse antes uma pulsão animal
dos mais negros e ancestrais recônditos da inconsciência
daqueles que nenhuma razão consegue fundamentar!

algo que te fizesse despertar
corpo e espírito harmonizar

malditas raízes
que profundas e renegadas insistem viver
e os caules - a unhas arrancados - fazer renascer

venha alguma nuvem carregada de águas lá doutra geografia
que me encha as esgotadas reservas
uma nova esperança
qualquer que seja
para que possa aprender a querer de lá voltar a beber
e assim sumir, salvar-me, resgartar-me da inércia, do marasmo, da inquietação.

mas um dia a fonte que te salvou da miséria
vai também ela secar
possas até lá aprender
a - rapidamente* - outra encontrar

até lá, canta!
canta o canto do desespero!
o canto de quem não sabe querer!
outra coisa para além do sonho!
e canta, possas tuas misérias esquecer!


*não vá termos mesmo só uma vida...