sábado, 5 de dezembro de 2015

o homem que recomeçava e regressava para o mesmo, e o amanhecer que entretanto ainda não chegou

estava a recomeçar,

a noite avançava
já não com a típica lentidão
mas antes, apressada
o sol ia nascer, eventualmente
as pessoas iam embora, eventualmente
cada qual para o seu conforto
cada qual com o seu parceiro
sim, o sol ia nascer, eventualmente...
isso deixava-o ansioso, receoso...
mas la ia, arrastando-se

o ar estava denso de humidade
a humidade estava laranja das luzes da estrada
a estrada estava negra, riscada de sombras pesadas e rostos viciados
la continuou, "ainda é cedo", pensou
mas não conseguiu iludir-se
o velho truque perdia o efeito
vai amanhecer rapidamente, sem dúvida...

os corpos dançavam, loucos, em extase
outros corpos estavam mortos
apenas olhavam e faziam sons com a boca
palavras desconexas, improvisos decorados
o piloto automático de quem não tem mais força
ele estava sem força, mas não conseguia falar
preocupava-o mais o amanhecer
esse guardador de rebanhos, analgésico, purificador

e se o sol não nascesse?
aí sim, apesar do titânico e inexplicável caos
ele estaria seguro, capaz, confiante, apesar da promessa de morte súbita
sentia-se o homem mais capaz de lidar com o desconhecido,
o inesperado, o irreal, uma força cósmica negra
devastadora, capaz de desconstruir o tempo e as dimensões
quanto a desejava... com que medo e desejo olhava para o ceu negro
e o imaginava a contorcer-se, a implodir e dilatar
a devorar todas as concepções do possivel

a puta da ultima paragem do autocarro é sempre a mesma
plantada à beira do mar, vasto, pesado, salgado, negro
os sons começam a soar familiares,
ainda o dia não nasceu, e já se lamenta
outra vez isto...
outra vez estes sons, estes passos, este caminho
outra vez esta humidade salgada, esta melancolia,
outra vez esta solidão, estes lábios gretados, este joelho queixoso
outra vez a recomeçar o mesmo começo outra vez..

porque te mexes, corpo? para onde me estás a levar?
o que queres? descansar? desgraçada máquina biológica..
porque inspiras e anseias tu mais do que podes sentir?
anseio, finitude, solidão, recomeço...
que triste deve isto ser
aos olhos dos olhos saudaveis
que nao temem o amanhecer

pudesse um dia o dia não nascer
e ser devorado, rasgado,
engolido por um desconhecido prazer
só pela curiosidade de sentir não temer o amanhecer
nahh, que se foda a curiosidade, é só mesmo pelo prazer, e pela raiva
pelo orgasmo e a destruição
frio, doentio, blasfémico

estou a regressar



memoria cantada do medo do infinito recomeço e regresso, por um homem que regressava pela estrada, (des)animado sabe lá porque força, talvez apenas sede de poesia. ainda assim não conseguiu escrever o que queria, mas aqui fica o rascunho de algo, um improviso sem ambição, um exercicio de imaginação, uma prova de pobreza verbal, uma experiência de imprevisto, acidente, espirali niilista, formalismo, #comunicação, uma merda qualquer
estou farto de ti

https://www.youtube.com/watch?v=hkATLofJohE




quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

nos tal gia

o homem sentou-se ao fim do dia
cansado, viciado, sozinho
lembrou-se de um dia em que se sentiu feliz
um dia em que acordou mais cedo, sem sono
todos estavam a dormir no chão, envoltos em cobertores e almofadas
aconchegados, leves, felizes
talvez todos juntos num só sonho, em aventuras
ela também estava lá, dormia como um anjo, linda
o vermelho do cobertor envolvia-a num calor perfumado apaixonante
as luzes de natal iluminavam tenua e calorosamente a sala
iam acendendo e apagando em fade, num ritmo lento alaranjado
o dia estava a nascer, calmo, lento, limpo
lembrou-se de pôr uma música, baixinho
foi a felicidade que lhe tirou o sono, apercebe-se
estava demasiado feliz e apaixonado para conseguir dormir
que emoção, que memória tão linda e gratificante

e agora
agora está cansado, viciado, sozinho
mas lembrou-se daquela música
e a felicidade voltou, engomou-lhe o sono e secou-lhe a mágoa

vai dormir e sonhar agora
depois de um cigarro, claro...

ai ai...

https://www.youtube.com/watch?v=V4hvB3sTqCw

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O meu sonho é ir para fora... Do planeta! + carta para a NASA ou qualquer organização de exploração espacial

"A terra é o berço da humanidade, mas ninguem pode viver no berço para sempre" 

Konstantin Tsiolkovsky

Concordo Plenamente. A raça humana é um organismo demasiado fantástico, um acontecimento universal demasiado raro e notável, e teve uma mãe fantástica, como muitas poucas há no universo, a Terra, esse maravilhoso paraíso de vida. Quem diria que o pó das estrelas se iria unir e orbitar uma estrela à distância perfeita para fazer proliferar... VIDA! O próximo passo deste novo elemento é expandir-se, colonizar novos espaços até, finalmente, encontrar outras raças que tenham tido berços igualmente fantasticos para poderem desenvolver ferramentas igualmente poderosas. E aí juntarem-se para continuar essa conquista universo fora, rumo ao infinito desconhecido, para sempre, até ao fim do tempo. É tudo uma questão de tempo...

Cara NASA ou organizações de exploração espacial, se precisarem de alguém que vá viver para Marte (ou para qualquer outro planeta que tenha uma atmosfera e me dê um nascer e pôr do Sol, dias e noites) e que tenha skills a filmar, fotografar, e tocar alguns instrumentos musicais, eu vou DE GRAÇA (tambem de pouco me valia o dinheiro lá.. Mais um motivo!) E se a viagem não tiver regresso certo, ou for mesmo só de ida, EU VOU NA MESMA, desde que: me deixem levar uma guitarra ou um piano; a missão tenha uma componente agricola e de colonização da terra, tipo plantar batatas ou construir abrigos/casas e canalizações para preparar o habitat para os próximos conterrâneos; me vão mandando filmes, fotos, livros e musicas da terra; e que me acompanhem algumAs Astronautas a quem possa dar amor e procriar!

Mas antes disso queria 2 anos de férias por todo o mundo...

Se hoje tivesse a legitimidade de uma criança para dizer qual era "o meu sonho", era este.

(Perdoem-me feministas, filósofos, politicos, etc... Não estamos aqui nesses registos... No fundo sou um animal, uma besta selvagem. Somos todos... Uns mais domados, outros menos... Eu tento domar-me apenas quando preciso, e libertar a minha animalidade.. quando preciso! e cada vez mais a mesma só se expressa na escrita destas coisas, por isso não me venham com merdas e juizos e criticas! venham antes com os vossos sonhos! =D
 ser adulto é uma seca... ja nem consigo escrever sem adoptar uma postura defensiva... POKERALHO JUIZES)


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

god help me

I still dream with you
and I dont want to

I wish you disappeared
but I dont want to

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Plantar uma bomba
só pelo prazer
cruel capricho
para a seguir a esconder

mas tu sabes, perfeito humano
a bomba escondida não se some
ou fica esquecida
ou rebenta e consome

oh, fugaz desejo de prazer
com que frieza tu seduzes os corpos
oh, maquinas biológicas, bestas animadas
com que indiferença vocês se consomem

maldita avidez do saber!
atormentas, inquietas, intrujas!
porque insistes tu em querer saber
o que se passa além onde não tens poder?

pois o paraíso está no esquecimento
como a felicidade na ignorância
consciência? juízo? reacção?
falará por mim a minha pulsão

pois o atormentado na sua busca
a puta da bomba pisou
(até o sentido poético matou...)
de que lhe vale qualquer outro esforço
senão aquele de... sei lá...

inútil é lamentar
a ferida está aberta
deixai-a sarar


(as vezes mais vale não abrir o jogo a certas possibilidades indesejaveis, vão-nos sempre perseguir e atormentar. claro que adoramos as maças proibidas... então nesse caso tenham uma estratégia, e cuidem do vosso karma...)

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

drunk

ontem cheguei a casa um bocado bebado, e deu-me para um daqueles momentos de estupidez e escrevi isto no meu mural do facebook. Resolvi apagar, e mandar para aqui, só porque é pena deitar as coisas ao lixo:

tanto nonsense, insensibilidade e $"
‪#‎T‬%$H#%YB neste mundo, que eu acho que me posso dar ao luxo/capricho/desabafo/whatever:

Apetece-me dizer: Pokeralho com todo o tema que não afecta a minha existência, não quero simular valores ou juizes sobre matérias que não consigo compreender plenamente, estou demasiado sóbrio! Apenas sou capaz de gritar por algo quando compreendo e acredito nisso. Os meus critérios são simples: conseguir rir-me e chorar genuinamente. Como dizia o outro, "apenas consigo acreditar num deus que saiba dançar" (o que quer que isso signifique nas biblias de significados desses eruditos que fazem dinheiro a insinuar que verdade há só uma! há tantas quantas consciências, amigos! por isso poupem-se e à energia que despendem a tecer as vossas criticas...) 
mas realmente ha tanta ignorancia e insensibilidade nestas paragens virtuais que eu fico doente e só me apetece gritar me#da. pois me#da para todo aquele cuja vida é já tao viciada e triste que se vê obrigado a tecer um comentário pensado em 5 min sobre mer#as das quais nao so nao participa como nao compreende para se sentir vivo, participativo, ou o car#lho que o f#da.
mas isto tudo soa demasiado egoista, essa filosofia burguesa do "so acredito ou me preocupe por aquilo que me afecta", mesmo aos meus olhos egoistas. e na verdade em alguns desses comentarios pensados em 5 min ha coisas bonitas, de esperança e salvação............. pois cá voltamos, ao abismo que suga os artistas e delicia os niilistas, a volatilidade do real. pois deliciem-se, suas incriveis bestas.
resumo:
nunca estivemos tão bem, ou sequer diferentes, tudo se repete, outra e outra vez, qual pulsao biológica, qual regressão infinita, qual eterno retorno, qual car#lho. Pensar é estar realmente doente dos olhos, já dizia o nosso mestre...
(levem isto com a mesma leviandade como levam qualquer outro recorrente post, tava bebado e frustrado o homem! agora certamente estará mais aliviado...)

sábado, 15 de agosto de 2015

Midnight Radio Tribute Poem

streets filled with solitary and uncertain lives 
people laughing and people dying

city lights dance through the high appartment windows

a slight cool breeze enters the room
it smells like gasoline

letters are still unopened 

messages are still unheard

city sounds become a nostalgic mantra

the tired body takes a rest

but allways numbly aware
for he has no lock in his door

https://www.youtube.com/watch?v=pkw2kcQ5Lzs
Bohren & Der Club of Gore

This album is something very special to me, so I wrote this

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

"O Rio Endo" (título provisório) WORK IN PROGESS

Estou a trabalhar num pequeno livro/conto/história/coisa com algumas inspirações Lovecraftianas. Todo o plot e intriga está mais ou menos definido, resolvi deixar aqui a sinopse e um cheirinho dos primeiros capitulos (em constante mutação).


Sinopse:
O Rio Endo na pequena e pacata ilha de Nocsed há muito que é localmente conhecido por estar envolto em mitos sobrenaturais que falam de uma qualquer força negra desconhecida ali instalada há milhares de anos. Um terrivel acidente atrai algum mediatismo em torno do rio, onde um carro recentemente caíra e desaparecera juntamente com o corpo do filho de Jeremy Bell, um influente homem de grande poder económico que decide investir todos os seus fundos na exploração científica daquilo que se começa a supôr ser talvez uma das mais profundas cavernas subaquáticas registadas até à data. O experiente detective Edward Carlsen é chamado para acompanhar a investigação e investigar de que forma o desaparecimento do carro poderá estar relacionado com uma pequena comunidade religiosa ali perto instalada.

A falta de dados científicos e a incapacidade tecnológica em alcançar o fundo da caverna subaquática vai potênciar toda uma intriga mística e sobrenatural em torno do rio Endo, intriga essa que a comunidade religiosa, científica e mediática parece divida em apoiar ou abafar.

Paralelamente, um homem desconhecido escreve um diário:
Acordara numa enorme caverna subterrânea, apenas equipado com uma lanterna e alguns mantimentos, sem memória do que lhe acontecera. Não tendo outra alternativa mete-se a explorar a misteriosa caverna em busca de uma saída, mas os seus infinitos abismos começam a desafiar os limites da sua sanidade mental.



SNEAK PEAK:

Capítulo 1

O pequeno riacho estava particularmente calmo nessa noite fria. Uma fina nuvem de nevoeiro flutua sob a água gelada, e por incertos mas certamente compreensíveis fenómenos atmosféricos tingida de um azul que conferia ao espaço qualidades de uma ordem subliminar. As cigarras cantavam, um leve vento acariciava as árvores, e uma pedra torta elevada acima do nível da água fazia a mesma cantar o mais suave chapinhar. Enfim, os mais místicos fenómenos pareciam ter sido convocados por qualquer força desconhecida para aquela noite de particular poesia. Talvez fosse deus, inspirado pelo seu tédio, a experimentar e assemblar um novo microclima naquele vale esquecido entre a serra, nessa cortante noite de inverno.

Um qualquer pássaro, certamente preto e de porte considerável, lança um pio que descobre no seu eco novas propriedades sonoras, mas antes de o mesmo ter tempo para fantasiar sobre o seu inédito repertório resolve levantar voo, desapontado: afinal era um carro que se aproximava ao longe e espalhava pela serra o som do atrito entre borracha e o alcatrão e ainda frequências mais graves, ritmadas, qualquer tema musical de sucesso.

4 jovens vinham animados num potente carro a testar a segurança do mesmo, com sucessivos peões, travagens e acelerações fortes nas rectas mais longas, até que de súbito e para a surpresa de todos, dada a inospitude daqueles montes, ao longe, avistam na berma da estrada um homem à beira de um carro, sinalizando a sua intenção em apanhar boleia. Em tom de desafio um dos passageiros mais animados pelo álcool insiste que deveriam dar boleia ao homem, e apesar do sentimento de desconfiança do condutor já todos estavam demasiado animados pela ideia, pelo que não parar seria matar a noite e o espírito de aventura que, pela primeira vez, aqueles jovens de 18 e 20 e poucos anos, experiênciavam.

"Boa noite amigo! Que se passa?" - começa o co-piloto enquanto abre o vidro.
"Boa noite" - diz o misterioso homem que apenas agora dava a sugerir, pelo seu cabelo grisalho e rugas pronunciadas, ter os seus 50 e muitos anos - "Tive um problema com o meu carro, daqui a 5 km há uma bomba de gasolina de um amigo que me deixa pernoitar por lá e amanhã ajuda-me a vir buscar o carro, importam-se de me deixar lá?"
"Ora essa, entre! Pelo GPS também não há forma de evitar tal bomba, por isso não há desculpa!" Diz animado um dos passageiro de trás.
"Tenho é que vos pedir, por favor, que me deixem fazer este pequeno percurso no lugar da frente, sofro de umas náuseas terríveis quando estou a ser conduzido por estas curvas" Diz em tom monocórdico o misterioso homem. Paulo, o condutor, pressentiu algo de estranho no tom de voz do homem, algo nas suas intenções e desculpas não o estava a convencer, mas antes de o mesmo ter tempo para inventar qualquer desculpa já o seu amigo do lado, entusiasmado, saltava fora do carro para dar lugar ao misterioso homem, que ainda não se tinha apresentado.
"Como se chama o senhor? Já está aqui à muito tempo?" - Começa Paulo enquanto baixa o volume da música, numa tentativa de quebrar o gelo que subitamente se instalou no carro que retomava a sua rota.
"Estou à um bocado, sim. Além do mais não tinha rede para contactar ninguém." Responde imediatamente o estranho homem, que parecia começar a ficar nervoso, como se já tivesse respostas pensadas para todas as perguntas de ocasião que pudessem surgir.
"Você é de cá?" Continua Paulo.
"Não" Responde prontamente o estranho homem enquanto tira do largo bolso uma pequena pistola de calibre .22 que aponta à cabeça de Paulo. "Acelera"
Um arrepio corre a espinha de todos os tripulantes daquele carro, que ficam petrificados sem reacção à ameaça do homem.
"Acelera caralho!" Insiste o homem, visivelmente ansioso.
"Por favor, nós temos muito dinheiro..." "Acelera já! Até aos 80 kilometros hora!" interrompe o homem que sem retirar os olhos da estrada. O binário do carro começa a subir, 60, 70, 80 km/h, e ao fundo da grande recta uma curva perigosa à esquerda começa-se a desenhar.
"Já morri uma vez, agora morro uma segunda, e de vez. Em nome do conhecimento!" Sussura o velho homem enquanto agarra o volante e o guina violentamente para a direita.

Toda a pauta musical daquele idílico e vasto cenário entraria assim numa inesperada cadência, composta por um muro de pedra a ruir, interrompida por breves segundos de silêncio até um violento e longo compasso composto por uma pesada massa metálica a rebolar ao sabor das leis da física. A queda prolongou-se por 30 longos segundos pela íngreme encosta abaixo, até ao final estrondoso de água a chapinhar.

Além do rio que ficou mais agitado, o tema inicial daquele idílico cenário retomou indiferente o seu compasso, enquanto um dos jovens que viajava atrás, com o corpo quebrado, se salvou pela janela partida e nadou pela gelada água até à margem do riacho onde se esforçaria por recuperar o fôlego e a consciência. Não tardara muito até que 3 ou 4 vultos humanos, vindos da escuridão, se juntassem à sua volta.

"Que fazemos com este?" Diz o mais agitado dos vultos.
"Ele está a morrer, amarra-o a uma pedra e atira-o ao rio" - Responde um outro mais calmo.

"Não. Este não quis morrer, pois não morrerá. Para já." - Grunhe imperativamente uma voz mais rouca e velha enquanto injecta qualquer líquido na corrente sanguínea do sobrevivente.


Diário#1

"Não sei bem como começar, ou o que escrever, ou sequer o que fazer. Acordei de um dos mais longos, inquietantes e indescritiveis sonhos de que tenho memória, encerrado sozinho numa enorme caverna com com uma grande mochila com vários objectos e mantimentos. Consigo avistar um alçapão no tecto, já berrei por socorro e tentei trepar até lá, mas ambos os esforços revelaram-se inuteis. Já me esforcei por tentar recordar o que aconteceu e como vim parar aqui, mas a última memória que tenho é de estar em casa com o meu filho. Também já vasculhei a mochila em busca de alguma pista, mas nada me é familiar. Muita comida enlatada, um grande casaco polar, água, lanterna, pilhas, este bloco e uma esferográfica. Não me lembro do meu nome sequer, nem me consigo recordar de nenhuma cara familiar, excepto a do meu filho. Demorei algum tempo a decidir-me se estaria a sonhar ou a sofrer de algum trauma psiquico, mas acho que estou realmente vivo e são, apesar do insólito desta situação. Pus-me então a explorar esta caverna, uma vez que só me restava essa opção. Creio que já caminhei cerca de 5 km's, às vezes em círculos pois as grutas formam caminhos diferentes, e alguns cruzam-se. Ainda não encontrei nada, nem mesmo uma frincha de luz. Não faço ideia se é dia ou noite. Não sei se é pelo facto de não ter outra alternativa a não ser caminhar por esta caverna fora, mas não sinto medo. A única coisa que temo é ficar sem luz, mas graças a deus tenho dezenas de baterias. Vou comer, descansar um bocado as pernas e desenhar o percurso que fiz até agora."
(desenho)



terça-feira, 5 de maio de 2015

canta, canta

Some-te desejo, some-te emoção
inquietas o pobre mendigo
quem lhe deitasse uma mão...

Viesse antes uma pulsão animal
dos mais negros e ancestrais recônditos da inconsciência
daqueles que nenhuma razão consegue fundamentar!

algo que te fizesse despertar
corpo e espírito harmonizar

malditas raízes
que profundas e renegadas insistem viver
e os caules - a unhas arrancados - fazer renascer

venha alguma nuvem carregada de águas lá doutra geografia
que me encha as esgotadas reservas
uma nova esperança
qualquer que seja
para que possa aprender a querer de lá voltar a beber
e assim sumir, salvar-me, resgartar-me da inércia, do marasmo, da inquietação.

mas um dia a fonte que te salvou da miséria
vai também ela secar
possas até lá aprender
a - rapidamente* - outra encontrar

até lá, canta!
canta o canto do desespero!
o canto de quem não sabe querer!
outra coisa para além do sonho!
e canta, possas tuas misérias esquecer!


*não vá termos mesmo só uma vida...

sexta-feira, 6 de março de 2015

Se a vida nos dá limões, porque não fazer uma limonada?

Um tormento nunca passa, apenas ganha novos contornos, transforma-se, hibridiza-se, colonizando novos territórios como um cancro que se espalha pelo corpo e encontra novos centros onde se reterritorializa. Agora o tormento é o porquê. Porquê renegar os limões a que temos acesso? Porque não fazer uma limonada? Será ânsia de encontrar outros melhores, mais maduros talvez? Será medo de descobrir que afinal eram mais ácidos do que a sua casca amarela sugeria? Mesmo assim os limões mais ácidos não matam, podem corroer um pouco, mas deixar que esse medo nos impeça de os experimentar é, no minimo, um desperdício de horas de vida, uma passividade triste que nos fecha ao exterior e nos impede de embarcar em aventuras e viver, e se o sofrimento crescer ao menos por outro lado a felicidade também conheceu novos territórios, não é o homem que mais sofre aquele que mais plenamente consegue sentir felicidade? Pelo menos assim me quer parecer, talvez este seja o leit motiv que me consegue resgatar deste tormento e dar-me algum bem-estar, talvez esteja totalmente errado, mas cumpre a sua tarefa, a de me manter senil.
Mas não percebo, e este não entendimento está-me a corroer, porque enquanto me retraio para o tentar perceber estou também a afastar-me.
Não sei o que fazer. Tenho pena desta situação, gostava que ela desaparecesse, e que com ela fossem todos os meus desejos e fantasias, no regrets or hard feelings. Espero que ela habite apenas o meu imaginário e não se extenda muito, porque quanto mais atenção lhe damos mais longe estamos de uma resposta ou solução genuína e autêntica.
Pronto, a Primavera está a chegar e o mundo é um sítio bem grande, bem hajam!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

o real incomunicável



Hoje presenteei à minha ignorância o filme "The Master" do Paul Thomas Andersen.
Um dia destes escrevi que os mais falsos fundamentos podem dar origem às mais sólidas realidades, inspirado por um certo cepticismo e a pensar em sistemas religiosos, como o cristianismo e a igreja católica. Acredito, hoje, que de facto a razão empírica e científica não é de todo altamente imprescindível para a construção de um sistema filosófico/religioso, um entender o mundo, organizando, nomeando e significando os fenómenos e as suas relações entre si e com o homem.
Um dos momentos que esta segunda visualização do filme me deixou na memória foi, aquando a publicação do segundo livro do Culto, o comentário de um dos intelectuais lá presentes em relação à obra, que com tanta paixão, sangue, suor e sede de verdade foi escrita pelo personagem do Hoffman. foi algo do género:
"para mim o livro podia ser resumido a 3 páginas e ser entregue à entrada do metro. A estrutura do pensamento do homem é totalmente incomunicável, mas uma coisa é certa, o homem é um grande místico, um verdadeiro místico" (de notar o tom extramemente respeituoso com que emprega as ultimas palavras, "um verdadeiro místico")
Eis. Ei-lo. O momento de ruptura. O momento em que as edificações que um homem faz da realidade (tão válidas como as de qualquer outro sistema religioso social e historicamente instituido e, analisado profundamente, não tão diferentes até da ciência) carecem das qualidades do comunicável.

O poder dos sistemas místicos reside no facto dos mesmos se poderem alicerçar em fundamentos abstractos, cuja fonte de inspiração provém de uma experiência interior, e não de um estímulo ou fenómeno exterior, para o qual todos os homens podem facilmente virar os olhos e ver.

Eis a mais profunda e colossal tristeza que o Homem pode experiênciar. O não conseguir comunicar o seu entendimento do real. O criar um real incomunicável.

Existe, contudo, uma dimensão transcendental nisto, creio, que consegue trazer algum consolo ao místico. Não queria dizer uma comunicação espiritual. Mas acho que, desenvolvendo métodos de meditação concretos e bem definidos, se consegue dar aos homens não a mesma verdade que o sábio detém, mas a mesma experiência que inspirou o entendimento do sábio. Partilha da experiência inspira a compreensão mútua, a harmonia entre as almas. Se para os cristão é o jejum e para os tibetanos é a meditação, para os dois personagens (hoffman e phoenix) era aquela bebida. Não foram as ideias que os ligaram um ao outro, foi a partilha de um estado.

Um dia tentarei reunír forças e inspiração para prestar a devida atenção a este assunto. Por enquanto ficam estes apontamentos acidentados.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Endo/Exo Genesis - Curta metragem 4 minutos

Ideia:
Devido à superabundância de material descoordenado que a filmagem em registo de documentário ou improviso produz torna-se difícil organizar o mesmo num tudo consistente, pelo que a unidade ou sentido narrativo deve ser então procurada na potência dialéctica da montagem e na utilização de padrões rítmicos formais. (Slavoj Zizek) 
A ideia foi partir para o pinhal de Arada (Ovar) e filmar num registo de improviso e sem guião, para encontrar uma unidade ou sentido narrativo na montagem. Também passou por criar uma atmosfera mística e poética, sem recurso a diálogos, diluindo as fronteiras entre o "real" e o "sobrenatural". Fazia também parte da missão fazer tudo (filmar e editar) em 24 horas.

Sinopse:
Um jovem a acampar num pinhal à beira mar depara-se com estranhos fenómenos, o fantasma de um indígena e um estranho monolito brilhante.

Filme:





Frames:

























Notas Finais:

Claras influências de "2001" de Kubrick e "Febre Tropical" e "Tio Boonmee" de Weerasethakul.


Endo significa Interior.
Exo significa Exterior.
Genesis significa Criação.
A ideia mais interessante cujo questionamento este filme pode potenciar (de acordo com a minha interpretação) é a origem dos estímulos que nos fazem interpretar e significar o mundo, podendo partir de uma Experiência Espiritual (interior) ou de uma Experiência Empírica (exterior). 
O ser indigena e o monolito são criações do personagem principal ou existem de facto? Creio que a questão tem de ser reorientada não no sentido de simplesmente nomear os fenómenos como reais ou surreais/irreais, mas, reconhecendo ambas as "possibilidades do real", pensar onde poderemos chegar (espiritual e socialmente) adoptando uma ou outra possibilidade. 
Os mais falsos fundamentos podem dar origem às mais sólidas realidades. Então talvez o problema esteja na nossa concepção de falso e verdadeiro. Fica lançada a ideia para debate.



domingo, 8 de fevereiro de 2015

nadar na lama

os corpos estão deitados, a noite avança, lenta e melancólica
as almas, cansadas, nadam à superfície do lamacento e ensonado tédio

gostava que estivéssemos livres de pesos, estou exausto de nadar na lama
que estás a dizer?

estou a ser
a ser o quê?

a ser, apenas
quanto mais "poetisas" mais me aborreces

quanto mais perto estás, mais distante ficas
porque é que temos de falar?

para nos sentirmos vivos
eu estou viva em silêncio

mas para mim estás morta, e não quero que morras
então estás doente

estar doente é estar numa condição diferente apenas
tás com uma poesia do caralho

não a gozes, pudesse ela curar-me, mas so me hipnotiza mais
tas hipnotizado?

tou, por ti
isso é bom ou mau?

é um tormento agradável
e porque não fazes nada em relação a isso?

temo o teu intimo
não sou nenhum monstro

fantasiei-o demasiado em meus sonhos
deixa-te de merdas

ajuda-me, por favor
lamento, mas já me filmaste demasiado

não entendo como é que a sinceridade ou a poesia te podem filmar
a poesia apenas é boa quando acompanhada por um fazer e não quando brota da inércia

mas eu não sou um bom poeta
de facto não és, aborreces-me

ajuda-me
que queres que te faça?

que não penses as minhas palavras, que sejas, só
estás completamente louco

que me beijes
descansa, por favor

estou embrutecido, a minha razão quer-me abandonar, juro-te
dorme, por favor, e cala-te

se me calar morro mesmo
amanhã ressuscitas, não te preocupes

venha alguma luz que me queime e me desperte para outra realidade
fecha os olhos

e o ensurdecedor silêncio dominou o resto da noite
a luz veio, mas não o queimou o bastante







quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

fechar para balanço (por uns tempos)

queria escrever algo maduro e nobremente fundamentado sobre o estado das coisas (ou pelo menos como me parecem aos meus olhos), mas infelizmente estou sóbrio e apaixonado, as duas condições mais inoportunas aquando a estruturação de um novo texto/poema, pois sempre acabam por falar de nada mais do que a sua própria impotência e tédio, mendigando no seu universo fantasioso em busca de uma triste esmola que lhe afague as mágoas e lhe prolongue a miséria. e já demasiados posts vêm nesta linha, o que o está a tornar numa coisa um bocado lamacenta e ridicula (bendito bom senso e vergonha em não postar tudo o que escrevo!).
é engraçado como quando estas duas condições estão nos seus opostos (estar ébrio e com uma atitude de certa indiferença em relação aos olhares e juízos externos) as coisas fluem com tal espontaneidade e veracidade que realmente apenas uma explicação de ordem espiritual ou mística consegue fazer perceber como é possível que esse estado potencialmente abstractizante e de êxtase irracional consegue produzir um discurso tão mais bem fundamentado e pertinente.
claro que casos são casos, mas este é o meu testemunho. ultimamente 80% das coisas que escrevo são marasmos emocionais, fantasias de um menino mimado e cobarde. 

pah, tou farto de lamechice, preciso de guerra!
vou tentar fechar para balanço por uns tempos.

entretanto deixo aqui alguns favoritos pessoais deste blog a reler para orientar ou inspirar um novo sentido para os próximos posts.
outra coisa que por acaso tenho pensado, é que eu tenho aqui coisas desde muito intimas e pessoais, até autênticos vómitos intelectuais passando por uma coisa ou outra até bem escrita (tendo em conta os meus skills), e não faço ideia de quem lê isto, se calhar sou motivo de riso para alguns. Mas este blog (que faz este mês 5 aninhos) é isso mesmo, um espaço de sublimação e partilha, uma confusão organizada q.b,. Não há ressentimentos, matemáticas ou manutenção de um público, há apenas liberdade de expressão, nas suas melhores e piores formas.
até breve!

histórias/contos:
O vale da estranheza - parte 1:

textos/devaneios:
Suja as mãos de vez em quando:
http://le-mise-en-scene.blogspot.pt/2013/12/suja-as-maos-de-vez-em-quando.html
Um misto de cenas, um fim de ano, uma merda qualquer:
http://le-mise-en-scene.blogspot.pt/2014/12/um-misto-de-cenas-um-fim-de-ano-uma.html
Recensão crítica sobre a Sociedade do Espectáculo de Guy Debord:
http://le-mise-en-scene.blogspot.pt/2014/01/esap-3-ano-estetica-recensao-critica.html


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

memórias #1

"naquela noite as almas estavam curiosamente imprevisíveis, como se tivessem experienciado, simultaneamente, a mais triste e lamentável tomada de consciência e o mais gratificante êxtase emocional que as suas existências poderiam ter proporcionado naquele momento. Nem a volatilidade das suas embriagadas memórias as conseguia resgatar daquele caótico e sublime estado. Reverberava infinitamente pelo corpo mesmo dias depois da sua desconhecida e exótica fonte o ter impulsionado, e como uma bola de neva a rolar pela montanha abaixo, vai encontrando no caos e na incerteza das superfícies e massas os seus novos fundamentos. O que lhes valeu é que era de noite. Bendita, mágica noite"

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

tanto para te dizer
tanto para te dar
tanto, tanto, tanto...
tanto para me dizeres
tanto para me dares
tanto! tanto!! tanto!!!

tu
eu
nós
neste espaço e neste tempo
potencial infinito de transformação
absorvidos na existência de cada um
e depois sugados para uma única:
a nossa

tu, com o teu pesado universo às costas
eu, com o meu pesado universo às costas

mas nós, apenas sob o peso leve dos nossos corpos
numa infinita viagem pelo nosso infinito intimo
apenas nós, eu e tu
num micro eterno retorno

envoltos numa energia demasiado gratificante
que potencialmente nos mataria no futuro..
mas nesses deliciosos minutos, (horas, desejo..) (dias, fantasio!)
de pura simbiose
tudo o que existiria
seriamos nós
tu e eu

pudéssemos morrer em tal êxtase


















(perdoai-me benditos herois e contadores de velhas histórias, perdoai-me mas não me leveis convosco. prefiro ficar por aqui, onde quer que isso seja aos vossos olhos)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

breve desabafo

A nossa doença é sentir demasiado intensamente as coisas, ou melhor, querer sentir demasiado as coisas. Fantasiar infinitamente algo, construir as mais belas, complexas e perfeitas ficções sobre algo, e perdidos nesta fantasia esquecemos o agora, o concreto, o "real" (por muito que me custe chamar-lhe tal coisa), e encontramos o sustento emocional não nas nossas relações concretas e reais mas nas nossas fantasias e utopias. Depois, confrontados com este lamentável e deprimente facto a angustia aumenta e recolhemo-nos para a nossa solidão, encenando aqui e acolá certas mensagens subliminares que já estão completamente desconectadas da relação pessoa-pessoa, que apenas servem para prolongar a nossa miséria e angustia e alimentar este "monstro". Criamos esse monstro para termos algo concreto para nos podermos defender, para justificar a própria miséria. Entretanto já as nossas relações estão destruidas, ou pelo menos destinadas ao falhanço... Que coisa mais triste, que raio de fenómeno ou momento nos incutiu tais instintos autodestrutivos??
Se acreditas ou sentes algo não o fantasies, comunica-o, expressa-o, não procures consolo na fantasia, é a melhor droga que existe (se me faço entender).
Pronto, abraços.

domingo, 11 de janeiro de 2015

O Vale da Estranheza - Parte 1

O pequeno riacho estava particularmente calmo nessa noite fria. Uma fina nuvem de nevoeiro flutua sob a água gelada, e, por incertos mas certamente compreensíveis fenómenos atmosféricos, tingida de um azul que conferia ao espaço qualidades de uma ordem subliminar. As cigarras cantavam, um leve vento acariciava as árvores, e uma pedra torta elevada acima do nível da água fazia a mesma cantar o mais suave chapinhar. Enfim, os mais místicos fenómenos pareciam ter sido convocados por qualquer força desconhecida para aquela noite de particular poesia. Talvez fosse deus, inspirado pelo seu tédio, a experimentar e assemblar um novo microclima naquele vale esquecido entre a serra, nessa cortante noite de inverno. 

Um qualquer pássaro, certamente preto e de porte considerável, lança um pio que descobre no seu eco novas propriedades sonoras, mas antes de o mesmo ter tempo para fantasiar sobre o seu inédito repertório resolve levantar voo, desapontado: afinal era um carro que se aproximava ao longe e espalhava pela serra o som do atrito entre borracha e o alcatrão e ainda frequências mais graves, ritmadas, qualquer tema musical de sucesso. De qualquer forma, em breve toda a pauta musical daquele cenário entraria numa inesperada cadência, composta por sons de peças metálicas a rangir, vidros a partir, uma massa pesada a rebolar ao sabor das leis da física, um muro de pedra a ruir e um final estrondoso de água a chapinhar. 

Além do rio que ficou mais agitado, o tema inicial daquele idílico cenário retomou indiferente o seu compasso, enquanto um jovem humano, com o corpo quebrado, se arrastou pela gelada água até à margem do riacho onde se esforçaria por recuperar o fôlego e a consciência.

(a continuar)





sábado, 10 de janeiro de 2015

Limerência (Que bom conseguir chamar as coisas por um único nome, ocupa menos espaço na memória)

la la la la la

já não sei, já não sei, já não sei!
tou como o outro: Fritei!

la la la la la

queria querer fugir 
desaparecer, sumir!

la la la la la

mas que consolo é coçar a ferida!
talvez esperar e coçar seja a melhor saída

la la la la la

não, miserável! presta atenção!
acorda dessa lamentável obsessão!
embora os motivos te escapem à razão
esquece por uns tempos teu enfermo coração!

LA LA LA LA LA, O CARALHO! 

...

Conseguirás?

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

asdomasdasdasdade

vagueio pelas ruas, praças e cafés
com o corpo animado por um estimulo fugaz
ás vezes claro outra vezes escuro
risos, piadas, conversa e alguma cumplicidade
algum à vontade para fazer o inesperado
mas os risos acompanham, bem hajam
os risos e as personalidades
cada qual com o seu mundo às costas
mas cada qual pousa a mochila aqui e acolá
para descansar
e rir um bocado
um à vontade que qualquer vivência passada consegue rapidamente justificar
porque se viram ou partilharam o mesmo espaço cénico
durante certo e determinado período
determinado sabe-se lá onde e por quem
mas lá há de estar, deixai-o que bem cumpre a sua função
a de permitir, facilitar, potênciar
bendita muleta
bendito alcóol que nos entorpece a razão
até daqueles que de ti não bebem
mais ou menos pesados e melancólicos lá se deixam escorregar também
e rir
pois ri-te amigo!
ri e fala
fala os teus medos e ânsias
os teus projectos e utopias
fala que verás que os mesmos farão brilhar todos os olhos
um brilho de pura cumplicidade
às vezes, por mau hábito, vão querer parecer-te zombadores
ou zombantes, ou o caralho
mas não ligues e permite-te falar
fala e faz os outros rir
e passa a bola
os teus cumplices saberão continuar a jogada
uma táctica incerta, talvez
mas verás que é bela por isso mesmo
perceberás então a natureza mística da estranha e incerta força que ali vos reuniu
e por ali vos orienta e encaminha
qual psicogeografia da cidade
qual caralho...

toda esta merda para dizer
que continuas a não estar aqui

sim, continuas a não estar aqui

estou cansado, mesmo genuinamente cansado, poesia à parte
de vaguear entre moods
ora é belo e romântico
ora é triste, fraco, torpe, viciado
ora tudo está encaminhado e bonito
ora está tudo uma merda que estagnou
e não há nada mais triste que um amor que não brotou na sua hora
talvez haja, mas agora mesmo não
como certa primavera aquela flor ter escolhido não rebentar
por ânsia de ver como seria a próxima primavera
entretanto já o verão te matou e o vento do inverno te levou
(não deixes que o inverno nos mate!)
sim, germinarás noutro sítio
ou pelo menos alimentarás outras situações
mas, ainda assim, não germinaste...
porquê?
serei assim tão fraco?
tão cego?
será natural este sentir?
este tormento diário
qual demónio ou maldição
qual perfume ou prazer

estes choques estão a matar-me
estes choques estão mesmo a pôr-me louco
e estou a adorar, qual sado-masoquismo

por outro lado rejuvenescem-me
estou praqui a escrever
lalalalalalalala
para ninguem
com que esperança?
com que objectivo?
sinceramente, que tambem a ti te alimentem uma fantasia
igualmente prazerosa e dolorosa

escrever numa parede
frases.........

espera

tu não fazes ideia, nem em sonhos, que isto se está a passar
mas eu continuo a jogar
a jogar ao esconde-esconde com a minha sombra
metáfora de merda
merda de merda
já dizia o sábio: tudo merda

consola-me, riso
salva-me









domingo, 4 de janeiro de 2015

os miseráveis

choram uma liberdade roubada
choram a sua condição
choram, pobres,
choram até mais não!

quanto me cansa este choro!
como é que é ele capaz
de encontrar consolo e confirmação
no pesado jugo que às costas trás?

pobre alma penada!
quanto lamento a tua sina
caíste no mundo num dia chuvoso
mas aguarda, um vento se aproxima!

ei-lo no seu esplendor!
a gritar amor do fundo do coração
ei-lo, misterioso navio
entra, meu irmão!

mas quando o vento os sacode
e grita para que saquem das espadas
gelam-se-lhes os ossos
sentem suas lágrimas cobiçadas

e o choro transforma-se em conforto
e cada um fica como que morto
a chorar para que o vento passe
e não o arrranque do miserável porto

onde, chorando, livremente se atracou
e onde, chorando, livremente ficou

pois que chore e lhe alegre então
sua eterna e lamentável escravidão!

pois eu choro também
choro minha solidão


sábado, 3 de janeiro de 2015