terça-feira, 30 de dezembro de 2014

um misto de cenas. um fim de ano. uma merda qualquer

existe algo de sedutivamente transgressor no processo de compreender algo.
uma potência do sentir que insistimos em recalcar e oprimir, sabe-se lá porque forças.
durante aqueles brevissimos segundos em que se toma consciência que temos o poder de escolher como é que algo nos vai afectar.











durante aqueles brevissimos segundos em que se toma consciência que temos o poder de escolher como é que algo nos vai afectar.





















durante aqueles brevissimos segundos em que se toma consciência que temos o poder de escolher como é que algo nos vai afectar.








como uma pulsão, um impulso involuntário cuja natureza prazerosa e de infinita satizfação a primeira razão a vir à cabeça vai saber reconhecer. Mas rapidamente surge a segunda razão, essa "boa maldição" que nos torna seres comunicantes:
"Mas, porque vais sentir isso? Porque não sentes antes daquela outra forma? Onde queres chegar com isso? Quem vai perceber o quê quando lhes disseres que sentiste isso?"



















"Mas, porque vais sentir isso? Porque não sentes antes daquela outra forma? Onde queres chegar com isso? Quem vai perceber o quê quando lhes disseres que sentiste isso?"

















"Mas, porque vais sentir isso? Porque não sentes antes daquela outra forma? Onde queres chegar com isso? Quem vai perceber o quê quando lhes disseres que sentiste isso?"














ás vezes um homem escolhe aquilo que o faz sofrer não porque quer sofrer, não por ser um fantoche que aprendeu a retirar prazer do sofrimento, mas porque, ás vezes, apenas essa escolha insensata, ridicula, desumana, irracional, enfim, "condenável", lhe consegue lembrar o sabor da liberdade.



















apenas essa escolha (...) lhe consegue lembrar o sabor da liberdade.

























apenas essa escolha (...) lhe consegue lembrar o sabor da liberdade.








"O homem não matou por dinheiro, mas por sede de sangue!"

_

vaga de estupidez:


Algo precisa de mudar. As pessoas estão fracas. Emocionalmente debilitadas. Compram cada interpretação e compreender mais PODRE e XUNGA para os seus sentimentos que por segundos perco a esperança em acreditar que um dia todos nos vamos banhar numa mesma alegria e paz.

PUTA QUE PARIU O PRAGMATISMO, A CULTURA DO ÚTIL DO EFICAZ DO IMEDIATO E DO CALCULADO.

NÃO TÊM LIBERDADE MEUS ENORMES DEGRAÇADOS, MINHAS BESTAS MIMADAS E EGOISTAS???? PODERA!!!!! VOCÊS MESMOS ZOMBAM DAS VOSSAS QUALIDADES EM PRATICAR A LIBERDADE!!!! SEMPRE A CUSPIR NO PRÓPRIO PRATO, O MAIS RANÇOSO E CRUEL ESCARRO QUE CONSEGUEM EXCRETAR!!!!! PUTA QUE VOS PARIU!!!!

Quem COMPRA juízos industrializados sobre os SEUS PRÓPRIOS SENTIMENTOS como quem compra mata-ratos na mercearia, está condenado à desgraça e à miséria, à mais lamacenta e pútrida realidade que os olhos conseguem ver! Possa algum produto nascido da mesma degenerada visão dar-vos breves instantes de amostras de felicidade, de uma pequena e mesquinha forma que o amor e a felicidade podem tomar. Mas não é qualquer uma, é a mais lamentável e triste de todas que irão nesses instantes de segundo recordar! (Com certa nostalgia e vício, como quando ao ávido fumador apenas lhe dão uma passa de um cigarro mal enrolado)  A mesma que consegue convencer os hamsters a proseguir a corrida, a máquina não pode parar, senão somos devorados.

amo a loucura, amo o irracional, porque apenas nestes universos consigo ter uma minima ideia do que a liberdade PODE ser. do que a felicidade PODE ser. do que o amor PODE ser. Não interessa o que É ou NÃO É, porque estamos fartos de saber que nunca é nada mais senão convenção, moda ou moral descartável. Interessa sim dizer o que PODE ser. Interessa portanto, SER. Por mais "ridiculo" que a vossa minada segunda razão vos tente convencer que algo que fazem ou pensam é, mandem-na pro real caralho e digam-lhe:
és pesada como um boi, some-te de cima de mim, QUERO RESPIRAR!!!


votos de um bom ano, e que alguma loucura nos ilumine e aqueça as frias e maquinizadas almas! que alguma poesia nos lembre das infinitas possibilidades interpretativas que tudo aquilo que vemos, cremos ou acreditamos podem tomar, tudo está em constante transformação, não se acorrentem, o mundo não é só para viver, é para criar! sejam felizes por favor!!! aweuhfwemfkqsdfdfjfq40pq34ti34t09gmkrv  bububububwoefsaeskkd2092929292922 29292929adfadasds



sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Montemuro - 26 Dez - rascunho















Nesse dia
fui-me encontrar perdido em ti
como uma folha que o vento levou
e nesta serra pousou

Montemuro.
Em ti em eu vim pousar.
Montmuro.
Como te vim eu encontrar?
Montmuro.
Para onde me vais levar?
Montemuro.

Montemuro, maravilhoso
nem as gigantes eólicas
perturbam o teu reino silencioso

A neblina, bem lá ao fundo e em redor
oculta um mundo de escombros
bem haja, pois perdido em ti, serra infinita
o tempo não pesa em meus ombros

e agora eu te canto, montemuro.
comigo te quero levar.
montemuro.
Para qualquer lugar.

montemuro.
somos o olho do ciclone
montemuro
que a razão nos abandone!

montemuro.
podesse alguém ver e ouvir.
montemuro.
nossos gritos, nosso devir.
montemuro.
uma nova inconsciência a emergir.
montemuro
ávida em existir

montemuro
aqui vais ficar
montemuro
hei de cá voltar
montemuro
o sol voltará a brilhar

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Conto sem razão: "O homem que não se lembra do que aconteceu a seguir"

O homem caminhava em direcção incerta por entre o cardume de pessoas que, apressadas, entravam e saíam das várias lojas daquela rua pomposamente decorada com luzes de natal. Embora se apercebesse não lhe chateava o facto do seu lento e por vezes incerto passo provocar aqui e acolá um congestionamento do tráfego de pessoas, alguns encontrões e peixarias, contudo rejubilava-se ao constatar que ninguém o atingia. Entretido a teorizar sobre este fenómeno, o homem pára diante de coisa nenhuma, talvez para estudar se estando imóvel continuava a não ser atingido, pensava para si. Enquanto formulava um bom motivo para ter parado um súbito encontrão por detrás serviria de facto empírico para mais tarde considerar que apenas em andamento lento teria a sua teoria praticabilidade. Envolto em braços que o impediam de cair redondo no chão o homem rapidamente se justificava: "a culpa é minha, estava a experimentar uma coisa, deixe lá, deixe lá", e tão depressa como surgiu se sumiu o vulto. Talvez o vulto fosse um desses joggers atrapalhado com os fios que lhe vão de um braço até aos ouvidos, talvez fosse um ladrão ou simplesmente alguém do futuro enviado com a missão de lhe destruir a fé na sua investigação. Ria-se interiomente enquanto retomava o passo agora com um novo mas igualmente incerto destino a 90º "E se me levaram a carteira? Que se foda. Não tinha lá absolutamente nada. É da maneira que já tenho desculpa para ir ao banco ver a Tânia: -"perdi o meu cartão, queria pedir um novo" digo-lhe eu, -"a Júlia tá boa?" -"Acabamos à coisa de 6 meses, espero-te para um café quando saíres?" -"O João vem-me buscar logo.." Será que ela ainda anda com esse cabrão?" Concentrado nos seus pensamentos o homem não reparou que alguém atrás de si o chamava aos gritos "Oh meu senhor, cuidado!" "Fuja daí!!", "Ai meu deus!!!" 
(gritos, uma sineta e depois um baque que silenciou tudo subitamente. "Será outro ladrão?". Foi o seu ultimo pensamento)

sábado, 20 de dezembro de 2014

4 movimentos



Uma luz arde, revela a escuridão

o corpo treme, os membros caem sem força

o mundo que parecia inanimado, poeirento e desordenado
de súbito respira






Uma luz arde, queima a escuridão

os olhos esquecidos do tempo repousam torpes nas formas

o mundo que parecia respirar, brilhar e desenhar estruturas e códigos
de súbito fala






Uma luz arde, dança na escuridão

as mãos dormentes procuram agarrar uma unidade

o mundo que parecia falar, hipnotizar e lentamente evadir-se
de súbito enraíza-se






Uma luz apaga-se, revela uma outra fonte luminosa

as pernas rijas levantam o corpo da morte

o mundo que de súbito desapareceu
parecia que já lá estava





deleuze e dmt



quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

1:04 Dez 2014 Pipa Velha (com T. Ramiro)


duas mãos escrevem dois quereres
este momento é uma mentira
por todo o lado te vejo, fragmentos e reflexos
não há palavra que encaixe nesta carta
na tua ausência ainda me dois mais: invejo a tua sombra
sempre acreditei no poder visual da imagem
já não sou eu que te quero, é o meu corpo
e aqui nos encontramos eternamente
e morro novamente para o meu sonho de ti
viajemos então em nossas infinitas memórias




exercício de escrever/dobrar/escrever
grandes bezanas


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

tantas caras bonitas e sorridentes na rua, mas é a tua que me assalta a memória.
tantos caminhos e direcções, sítios e encontros, mas continua a ser o teu espaço, o teu intimo, o meu destino fantasioso.
gostava de, no meio de qualquer balburdia de ruídos, pessoas e vontades dispersas, encontrar-te.
procurar o teu olhar disperso, e descobri-lo com um sorriso discreto, que quer parecer indiferente mas não consegue.
tropeçar em ti na busca de um refúgio breve da confusão, ser inundado de alegria infantil ao reencontrar o sorriso que à pouco queria parecer fugaz.
afogar as nossas misérias em alcóol, e aí, sem razão que nos ampare, caírmos um no outro.
fantasio-te, quero-te.

mas os teus sinais querem-me parecer indiferentes.
e morro
pudesse a minha razão justificar esta paixão infantil aos teus olhos que te a gritava

puta de poesia de merda

domingo, 30 de novembro de 2014

macro landscapes - small tale of a driver lost in time and space


the lonely driver could peacefully enjoy the blue moon


sailing through the long roads of  industrial sahara


it sure is a no man's land today, or so the driver wanted to believe


 for he could start to sense some strangeness in the roads up ahead


luckily he was not alone



estudos de composição com pouquissima profunidade de campo
história ilustrada com fotogramas

sábado, 27 de setembro de 2014

Breves críticas #2

(em respeito à nova record label da Pornhub)
http://www.metalsucks.net/2014/09/26/second-greatest-website-history-launches-record-label/


"Medo.
As industrias que crescem de forma uma quanto incógnita para muitos, aparentemente isoladas num anónimo e isolado universo digital, começam lentamente a entrar no plano cultural. Vivemos pouco tempo para termos consciência de como as nossas escolhas mais inofensivas mudam o mundo, e talvez não para melhor. Pensemos mais sobre a informação que consumimos e que força ou "instituição" (usando o termo da teoria institucional da arte) estamos a alimentar ao fazê-lo."


postado no dia 27/09/2014

Breves criticas #1

Resolvi começar com este novo tópico, onde colocarei algumas coisas breves que escrevo e que poderão potenciar um pensar mais profundo sobre certos temas.

(em respeito à nova edição da Casa dos Segredos)

"Esta tvi continua empenhada no seu plano de entorpecimento nacional.
Nada melhor que outra edição deste sucesso para enriquecer os Portugueses e a vital industria cor-de-rosa, que por esta hora estará a esfregar as mãos.
Que se fod*m os valores de humildade, integridade, tolerância e compreensão, já não têm valor de mercado! O que vende é a aparência, o fútil, o falso, a postura de submissão e passividade! (Sim, é esta cultura que estamos a alimentar ao dar audiências a esta merd*, é este o mundo onde vão viver os nossos filhos e são esses os valores que lhes vão exigir e atormentar. Mas nada que um anti-depressivo ou uma cirurgia plastica ou uma sexta edição deste programa não resolvam, não é?)
"Uma televisão feita por si", o que me assusta é que acho que nisto eles são íntegros. Como diz o outro "com grande poder vem uma grande responsabilidade". E o poder não está só nas mãos dos programadores televisivos, está nas audiências. E dar audiências a isto é aceitar e alimentar esta cultura.
Não vejam essa merd*..."

postado no facebook no dia 22/09/2014

sábado, 13 de setembro de 2014

Thundercat - Tron Song - Guitar/Bass Tab (Chords only)

Couldn't find the tab or chords of this wonderfull song by bass genius Thundercat, so I decided to do my take on it. Chords only.
Hope you guys find it usefull. If you find any diferent and better variation please let me know! 
Cheers!


E-----11------8-------9---
B------9-------6-------7---
G----------------------------
D------9-------6-------7---
A------7-------4-------5---
E----------------------------   X2

---------------------------
------------------6------5-
---8------5------5-----4-
---6------3------8-----7-
---7------4------6-----5-
---5------2---------------

---(5)--------------------------
----8------10----13------13-
---(5)-----7------10------10-
------------8------11------11-
----8------------------------6--
------------6-------9-----------

--(5)------5--    -5----6----8---
---8-----------    -----------------
--(5)------8---    ------5----7---
------------7---    ----------------
---8--------8---   -8--------------
------------------   ----------------

-----------------------------------12------11---
---10-----8-------8------6------10------9----
---7------(5)------5------3---------------------
---8-------7-------6------4------10------9----
---------------------4---------------8------7----
---6------(5)--------------2---------------------

quinta-feira, 26 de junho de 2014

madrid, primeiros dias

Eis-me num mundo desconhecido
carregado com esperanças e responsabilidades
e muita roupa.

acordo e rio-me ao ouvir a música do despertador
"eu pensava mesmo que ia acordar com isto?"
então aguardo pelo próximo alarme, que terá um música diferente
pensei que seria uma boa estrategia para não entra naquele estado em que o toque do alarme entra no sonho e o meu impulso é desliga-lo, uma vez que sempre seria surpreendido com uma musica nova
no entanto agora aguardo para ver a próxima, qual desculpa infantil para ficar mais tempo na cama...

lá me levanto e tomo banho, depois lá vem o desafio de me limpar a duas toalhas compradas no ultimo chinês que encontrei aberto na noite em que cheguei que parecem uma espécie de tecido impermeável...
visto-me e desayuno.
"Que tenda está o meu quarto, quando chegar tenho que arrumar isto"
pois...

arranco furtivo entre as ruas já povoadas de turistas e madrilenos para quem a manhã parece ter 24 horas.
as vezes sinto-me tambem como um turista aos olhos desta malta, no entanto todos parecem estar demasiado deslumbrado, entretidos, ou simplesmente demasiado hipnotizados na sua rotina para repararem em mim.

a furtividade desaparece e começando a chegar á plaza mayor não consigo deixar de sorrir, que praça tão grande e bonita, como é possivel que tantos animais humanos a invadam e nela circulem sem se atropelarem uns aos outros? onde está a força que torna isto possivel? policia? não a vejo... que engraçado..

começando a chegar a madrid de los austrias sinto-me como alguém a quem foi entregue uma importante tarefa e pode assim disfrutar de trabalhar para ela num dos mais chiques bairros de madrid, entre as casas dos grandes intelectuais, politicos, médicos. Que bom que exista aqui também espaço para a arte.

Finalmente chego o grande portão verde de madeira rija, com a tinta a descascar e uma delicada mão em bronze a servir de campainha, nele uma porta mais pequena se desenha, entro. Até hoje, sempre, sem excepção, tropeço ao entrar, pois está um pouco elevada do chão, então tenho que erguer as pernas, como se trespaçasse um mini vedação. Eis que estou noutro universo subitamente. Ao tropeçar e entrar neste espaço escuro, fresco e amplo sou invadido por uma estranha nostalgia que ainda não percebi bem. Ao fundo um pátio cuja vegetação está quase em estado selvagem, dominando todo o cenário. Sempre escuto música, maioritariamente jazz, vindo como que de um andar muito alto, ecoando pelo pátio encerrado pelas quatro paredes do prédio. Que interessante conceito arquitectonico, para mim, que por esta hora estou tomado pela poesia deste intrigante local.

Eis a minha parte favorita do dia: subir no velho ascensor.
hmmm, mecânica e electricidade básica em estado puro... delicioso.
Pressiono o botão, quase que sinto o circuito a disparar e chegar ao receptor que, prontamente, activa o ascensor. E lá vem ele a descer, elegante.
Amortece a sua velocidade. Abro a grade, abro as duas portas de madeira com vidros, muito leves. Madeira, que lindas madeiras, como todos os mecanismos funcionam tão bem e delicadamente. Entro e fecho tudo religiosa e simétricamente. Centro-me no elevador e escolho o meu destino, o ultimo andar (como sempre preferi). E começa a viagem. Que delicia... Mal me lembro que estou prestes a entrar noutro universo.

Saio, e dirigo-me para a porta. Abro.
De súbito estou como na sala de espera entre o ceu e o inferno, ou uma sala neutra no meio de uma mansão assombrada. Estou num hall com cerca de 8x8 metros, sem janelas, apenas uma pequena mesa com um belo candeeiro a encher o espaço de uma luz muito laranja, está sempre ligado este. Não se ouve nada. Detenho-me sempre a sentir o espaço. Sou novamente invadido por sensações de criança, sinto desejo por sentir mistério, medo. Que lugar tão estranho. Sinto como se estivesse nas margens desvastadas por bombas de dois paises em guerra, e no meio das crateras, e esta sala estava misteriosamente colocada no meio deste cenário, neutra, limpa, politicamente correcta, graciosa, misteriosa. 4 portas, duas de cada lado, perfeitamente simetricas. Uns pauzinhos perfunham o ar de uma doce fragrância, qual rara especiaria ou perfume da india, fruto do trabalho de mãos de tribos selvagens (estranha e subtilmente sinto esta herança de colonizador, de descobridor, de pertencer a uma sociedade culturalmente "superior", que coisa estranha).

Depois de abrir 3 boas fechaduras, abro a porta, e eis que entre neste espaço de trabalho, como um bunker secreto onde as tropas cansadas e moribundas se podem recolher, restabelecer e traçar novos planos, usufruindo dos seus modernos aparelhos tecnológicos e outros pequenos prazeres. Estou a trabalhar aqui, apenas isso, em breve não estarei. Que interessante conceito o desta produtora. Me encanta. Sou assaltado por esta ideia de ter que desenvolver mais o meu sentido crítico e politico. Preparo o estaminé quase religiosamente: abro a janela, ligo o ar, o computador, monitores, colunas. Tiro um café e fumo á janela. Entro e começo o meu trabalho. Que prazer me dá o de me sentir parte de um plano. Responsável por algo que irá contribuir para o objectivo do trabalho.

hmmmmm, estou invadido de poesia
ficarei por aqui por enquanto

terça-feira, 4 de março de 2014

odica imediaticidade

o mundo está perdido
o mundo sempre esteve perdido

o mundo é belo
tudo faz sentido

ávidos de conforto, assim nos tornamos
eu sou, tu és, nós somos, eles são
sem a imagem comum caímos no medo
despossados dela por forças de natureza incerta
deixamos de ser algo, para passar a ser algo que não sabe o que é

fragil corpo na infinita escuridão

a vantagem da ciência, enquanto sistema compreensivo é, fruto da sua própria incapacidade de perceber o nada, se assemelhar mais objectivamente a este, da mesma forma que a imagem reflectida no espelho copia os nossos movimentos.
padrões, repetições, ciclos
um corpo, outro corpo, dois corpos
um nada, outra nada, 2 nadas

não sei o que digo

cada civilização com o seu deus
é tudo, no inicio, uma questão geográfica e biológica
depois as equações ficam grandes e as variáveis deixam de caber numa definição sólida, para se tornarem elas próprias outros universos
assim caminhamos para o infinito

surge a razão de cada mundo
lançamo-nos em guerra
uns morrem, outros vivem
uma formiga é pisada, outra não

procurar razão no instinto domado
erguer a sua bíblia
construir estradas e armas

e o mundo gira à volta do sol
e o sol gira à volta do mundo
quadrado ignorante, feliz

confortável e cristalizado
assim deus quer o homem
cada civilização com o seu deus
mas agora voamos e aprimoramos técnicas e ferramentas que transformam a natureza.
que deus nos iluminará?

deus e sistema

faz faz faz
sê sê sê



quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

ESAP - 3º Ano - Estética - Recensão Crítica sobre "A Sociedade do Espectáculo" de Guy Debord

Neste texto (presente no final) Guy Debord condensa alguns dos pontos chave que constituem não só os alicerces do posicionamento crítico que toma nos seus livros e filmes em relação á sociedade capitalista do Séc XX, como também os da própria Internacional Situacionista, de uma forma resumida.

A critica Debordiana resume-se á censura dos processos de controlo e dos próprios valores reivindicados pelo sistema capitalista (e pelas politicas de direita), os quais, segundo ele, são responsáveis por desumanizar a sociedade humana.


O que Debord propõe com este livro, inspirado numa vontade quase anárquica, é reconhecer os processos de controlo indirecto (o espectáculo) que a sociedade capitalista (depois da igreja o ter feito de uma forma diferente na idade média) impõe ao indivíduo e ás comunidades para, de seguida, fazer tábua rasa e reconstruir a sociedade humana fundando-a numa condição básica: o trabalho para a unidade ao invés do trabalho para a separação. Mas antes de perceber uma vontade primeiramente política nisto, é uma vontade primeiramente humanista e libertatória que move Debord, não no sentido exclusivamente indivídual, mas até mais no sentido comunitário, como é indirectamente sugerido no final deste texto: “Toda a comunidade e todo o sentido crítico se dissolveram ao longo deste movimento (processo de separação e mecanização), no qual as forças que puderam crescer, separando-se, ainda não se reencontraram”.


Para que uma sociedade funcione plenamente, sugere Debord, não se devem recorrer a divisões (ou separações como este lhes chama) sociais nem ás mecanizações e especializações das mesmas. Observei que é possivel criar um ponte entre o que motiva Debord e o que motivou H. D. Thoreau  a isolar-se junto do lago Walden onde vivera auto-sustentávelmente e escrevera a sua obra prima com o mesmo nome do lago, ambos partilham não só a mesma vontade libertatória e emancipatória (no sentido de se reconhecer a condição de subjugação que se vive e se livrar dela), mas também apelam, de formas diferentes e mais ou menos directas, á importância do contacto com a terra, da proximidade e tomada de consciência e sentido crítico pela parte do indivíduo em matéria dos processos sociais que satisfazem as necessidades mais básicas (biológicas) ou até mais complexas (filosofia, metafísica) da sua comunidade e de si mesmo.


Antes de mais é necessário entender a que Debord se refere quando fala em “espectáculo”: Entendo que o espéctaculo para Debord se trata do conjunto dos processos de separação e alienação a que o universo capitalista submete os povos com a finalidade de os manipular a não só reconhecerem os seus valores, como a adopta-los passivamente para si mesmos, estabelecendo um pacto de ordem quase sagrada (no sentido em que este processo não é nem directo nem consciente) com esta “configuração do real”, ou como Debord diz, “condição de existência”.


O espectáculo, suspeito, tem ainda uma outra qualidade, o de não ser uma causa, mas sim uma consequência, uma consequência material e social de que nada serve aos seus criadores senão no sentido do “reconhecimento comum de um prolongamento imaginário para a pobreza da actividade social real”. Assim, o espectáculo afigura-se como a ingénua auto-confirmação da alienação de um determinado grupo ou classe social dentro do universo capitalista. O debate e obras que se produzem neste contexto é então espectacular pois visa, segundo Debord, a “conservação da insconsciência na modificação prática das condições de existência”. Esta frase de Debord resume a natureza manipuladora de qualquer sistema politico-económico hegemónico, principalmente o capitalismo, e á luz do que ela denuncia podem ser criticados muitos aspectos da nossa sociedade.


Para perceber melhor isto é necessário perceber um outro conceito fundamental para Debord, o conceito de separação: “A separação é o alfa e o ómega do espectáculo”.
Por separação entendo os processos de fundação e estruturação de uma sociedade hegemónica, e neste caso, da capitalista moderna.


Debord aproxima-se de uma esquerda Marxista (ou até mesmo ao anarquismo) ao condenar os meios adoptados pela sociedade capitalista para o seu desenvolvimento sem limites nem obstáculos. A classicização da sociedade, a especialização de cada organismo e a acumulação de dinheiro proveniente desse trabalho especializado cria um mau funcionamento no homem: Ao desconhecer processos básicos de sobrevivência, ao deixar de perceber o impacto real e importância do seu trabalho, ao permitir que o dinheiro satizfaça cegamente todas as suas necessidades e ao permitir que alguma entidade exterior o controle e define até á essência a seu próprio gosto, o individuo permite que uma essêncial faculdade humana embruteça brutalmente, nomeadamente a sua livre vontade, o seu sentido crítico e comunitário,  e o  seu conceito de liberdade. Ainda nesta linha de pensamento, Debord diz:“As long as we are unable to make our own history, to freely create situations, our striving toward unity will give rise to other separations.”
Com isto Debord parece sugerir que uma sociedade fundada nos principios da hegemonia social, ou pelo menos unida pela mesma ávida força capitalista, trará inevitavelmente, a par das suas parcelizações e especializações, separações.


Paradoxalmente a separação/especialização social que pode ser apresentada como um ideal social democrático, no sentido em que cada cidadão trabalha e participa nas escolhas tomadas pelo governo, revela-se aos olhos dos Situacionistas como a mais sublime das formas de controlo, ou pelo menos o ponto de partida propício para tal uma vez que “The quest for a unified activity leads to the formations of new specializations”. Este controlo, contudo, já não está (somente) nas mãos dos politicos nem do governo. O resultado das separações sociais foi de tal ordem que permitiu que a “cultura do espectáculo” se autonomiza-se do universo politico para mediatizar a comunicação entre os individuos, despossando-os do seu sentido comunitário e trocando a experiência autêntica ou a verdade por imagens para se assumir como uma nova espécie de religião, onde vez de termos uma imagem de Cristo que apele á simplicidade e a uma “boa conduta” temos várias imagens que apelam ao consumo de experiências multiplas e dos mais alienantes prazeres, transformando o debate politico (estando os próprios orgãos politicos “separados” do resto da comunidade) numa pequena parte dessa grande mercadoria do espectáculo.


O espectáculo mostra, então, “o poder separado desenvolvendo-se em si próprio”, e como atrás ficou sugerido, a acumulação de poderes “separados” cria uma situação de carência que se encontra no indivíduo especializado que não sabe o que quer atingir com o seu trabalho (senão ganhar dinheiro) nem tem real noção do impacto desse mesmo trabalho na sua sociedade.


Debord admite que o mundo da arte não escapa a esta “sociedade do espectaculo” e também ela sofreu um processo de separação, como sugere o próprio nome “mundo da arte”, sugerindo uma separação com os outros “mundos”. Segundo Debord a arte ou é revolucionária ou é nada mais que os objectos produzidos num contexto comunitário “não-espectacular”. Assim as propostas artísticas que os situacionistas fazem consistem em formas que “despromovam” a “arte” consagrada pela elite artística. Mesmo depois de Duchamp ter revolucionado o mundo da Arte esta não deixou, á luz da crítica Debordiana, de ser espectacular, contudo poderá existir uma arte, ou antes, certas “situações” que podem ser consideradas Arte, no sentido em que se busca, nestas situações, a criação de algo num regime não-espectacular, isto é, produzido num contexto comunitário autónomo e onde todos os “produtores” estão em contacto profundo e comum com a mesma “realidade”, realidade essa que visaria oferecer alternativas de configurações de existência diferentes daquelas que a sociedade do espectáculo dogmatiza. Este seria um cenário, creio, onde a criação artística não só faria sentido (de acordo com a visão de Debord) como satizfaria a necessidade social e humana de aproximar individuos e se afirmar uma comunidade perante outra.  A propósito do cinema, por exemplo, verifica-se essa vontade revolucionária não só na abordagem formal dos seus filmes como também no carácter intervencionista das suas narrações, procurando exaltar o espectador para os processos “espectaculares” a que este está submetido.


“The function of the cinema, whether dramatic or documentary, is to present a false and isolated coherence as a substitute for a communication and activity that are absent. To demystify documentary cinema it is necessary to dissolve its “subject matter”.”


A grande e final questão que inevitavelmente levanto depois de Debord ter afimado que a construção de uma sociedade unificada terá, inevitavelmente, que passar por processos de separação, é: o que podemos fazer no sentido de combater a alienação e a manipulação de um sistema sobre um grupo de pessoas? É possivel que exista uma sociedade unificada “não-espectacular”, isto é, que não recorra a separações para se tornar eficaz?


Termino com a minha postura pessoal perante esta questão:
Percebe-se que a busca de uma consciência comum dentro de uma sociedade globalizada e unificada (essa pura utópia) acompanhou sempre a história da humanidade e constituíu a gênese de todas as grandes transformações sociais e de todas as grandes organizações (politicas, religiosas, etc). Contudo tal tarefa é, de facto, tornada impossível pelo espírito naturalmente crítico e emancipatório do Homem, logo, a unica forma de tal sociedade poder existir e funcionar será instituindo cultural e socialmente que a palavra “liberdade” estará directamente associada á experimentação de prazeres que a sociedade tecnológica unificada permite, a troco de trabalho e entorpecimento sublime de algumas faculdades essenciais da natureza humana. Contudo eu não me revejo nesta politica. O comunismo (utópicamente falando) propõe uma outra estratégia, que é a de basear o sentido de unificação nas iguais condições económicas, sociais e culturais dos individuos da sociedade, contudo o homem continua sujeito, e se buscamos a liberdade, busquê-mo-la até ao fim.
Para mim o Homem, ao contrário da sardinha, não foi feito para viver em grandes sociedades, acredito que o florescimento de uma mesma “realidade” comum e unificadora (baseada no principio da liberdade) só é possivel em reduzidas comunidades autónomas. A partir do momento em que uma sociedade se hierarquiza e especializa no sentido de conquistar o mundo através da tecnologia é inevitável que, fruto das separações, se criem novas “realidades” dentro da realidade, ou novas sociedades dentro das sociedades.

Assim, e uma vez que o mais manipulado dos indivíduos tem legitimidade e “liberdade” para se reconhecer como um homem livre, aceito todo o tipo de sociedades, e reconheço que a arte desempenha, no plano individual ou de pequena comunidade, o papel de afirmação e revolução satisfazendo a necessidade emancipatória do homem, e no plano “espectacular”, o papel de entretenimento e asseguramento da harmonia entre cultura social e valores económicos/mercantis. Se por um lado o segundo me desperta algum desprezo, por outro consigo perceber-lhe algum valor. No fundo é uma questão tecnológica, se queremos conquistar o universo ou se queremos ficar por cá.



segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Nota sobre a Arte

Agrada-me, mais do que uma grande execução técnica ou uma grande bagagem conceptual, a obra que seja o produto livre de uma qualquer forma de consciência emancipada, quero dizer, de uma vontade. Gosto quando esta materializa uma reconfiguração do "real" ou novas propostas do possível, refresca-me a consciência e propõe-me novas ligações. Esta é, a meu ver, a necessidade humana mais básica que a Arte satisfaz. A revolução virá, inevitável e felizmente, depois.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Mini comentário sobre "Breaking the Waves" de Lars Von Trier

Um dos meus filmes favoritos do Trier é o "Breaking the Waves" de 1996.

Acho que é um filme onde se encontram presentes os principais motivos de interesse do Trier, entre os quais, como em "Ninfomaníaca", a pulsão sexual como vontade maior da acção humana (lembrando-nos das teorias psicanalíticas de Freud). Emily Watson é fantástica e o trabalho de câmara muito inventivo, livre, quase romântico.


Gosto particularmente deste filme pelos elementos que este coloca em jogo, entre os quais um que artisticamente me seduz particularmente, que é a questão da "verdade" e de como os choques e pontos de divergência dos vários sistemas simbólicos como a religião, a cultura popular, o capitalismo, colocam o Homem numa condição de liberdade condicionada pelas exigências morais e éticas de tais sistemas (ilustrado pelo percurso de sofrimento de Jen, a personagem principal). 


Mas Trier vai ainda mais longe e com esta personagem de Jen (mentalmente "atrasada") propõem-nos uma interessante postura crítica perante a religião (cristianismo e derivações protestantes) enquanto instituição maior de controlo da conduta humana, por um lado, e por outro a experiência mística. Seria fácil e limitador apenas ler na ingénua devoção de Jen uma condição de subjugação e ignorância. Essa força que a move (que a certo momento se confunde se é Deus ou o desejo sexual) efectivamente move-a no sentido emancipatório de satisfazer os seus desejos e os do seu "próximo" (o marido), contrariando todos os sistemas que a rodeiam, o que levanta algumas uma questões politicas e filosóficas muito interessantes:


"Até que ponto precisamos de confirmação cientifica para acreditar-mos legitimamente em algo?"; 

"Será a vontade do "ignorante" tão ou mais importante que a do "sábio"?"

Estas questões evidenciam uma paixão pelo lado poético da vida, assim como o amor pela liberdade em Trier, questões que fazem falta a este mundo civilizado, institucionalizado, especializado, tecnológico, cada vez mais abstémio de vivências poéticas e místicas, cada vez mais "domesticado" pela cultura do espectáculo capitalista que Debord fala, um mundo onde "... por grandeza material, todos os confortos celestiais se desvanecem em ar" - Chapman