terça-feira, 26 de outubro de 2010

Cansaço

Estou cansado...
Cansado de pensar no que dizer, ou como dizer.
Cansado de pensar no que deveria pensar e não no que penso que penso.
Cansado de tentar alcançar o nada, esse mundo celeste, mãe de todas as Verdades.
Cansado de me arrastar pelo mundo dos homens, porque sou homem e não porque quero.
Cansado de me iludir que estou cansado, quando na verdade estarei apenas descontextualizado.
Cansado, cansado de me tentar ver com os olhos dos outros, e cansado de não descobrir o porquê desse desejo.
Cansado de Ser e cansado de tentar não Ser.
Cansado de amar a essência, o longínquo, e cansado de sempre me apaixonar mais.

Mas o cansaço como a tristeza ou qualquer outro sentimento, não tardará a passar...
Mas estou cansado de aceitar isto também.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Percepções 3

Eu sou a minha alma

Eu sou o meu corpo.

Serei meu pastôr,

Ou estarei já morto?



Pasto como quem não é

Levado por quem nunca foi,

Mas como com duas bocas

A deste homem e a deste boi.



Sem saber, rumino

A natureza que não é minha

Sem saber, me alimento

Do peixe sem espinha.



Assim passo meus dias

Entre o fenómeno e a verdade,

Cantando minha loucura

Em tom de saudade.



Agosto 2010, Pala - Baião



(foi o primeiro poema que escrevi com um esquema rimático simples.

Gosto dele.

É Eu)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

?

O principal motor que faz com que continue com este blog não será certamente as centenas de pessoas e milhares de comentários construtivos que inundam este espaço como podem constatar, mas sim uma necessidade de aceder facilmente a uma espécie de "diário", onde tento afigurar o meu "Deus inconstante" em palavras que poderei Eu, mais tarde, re-ler novamente a fim de tentar compreender-me melhor e achar palavras que defendam e afirmem este meu incógnito desejo, esta minha percepção instável.
Desejo com isto não me deixar levar pela alienação consumista e marasmática existência que domina maior parte das pessoas com quem contacto (infelizmente), apaixonando-me pela minha loucura, se lhe posso chamar tal coisa...
Esta loucura, esta poesia, este estranho e oculto misticismo a que chamo de "MEU Deus" é o que me delicia a alma, e paradoxalmente, o que a atormenta, levando-me á exaustão racional e a um inconfortável estado de espirito. Mas reivindico isso, pois desejo compreender-me, a fim de me libertar do falso ser que no meu corpo plantaram á 18 anos e uns trocos.
Falso? Porquê falso? É um Ser não é?
Sim, e bem real como qualquer outro. Falso pois o repudio, não a ele, mas ao seu Deus, que em vez da terra deseja a doença, o poder, a atenção, o respeito, nesse pódio gigante chamado de vida onde os mais fracos e ingénuos se arrastam sob o peso do jugo dos pastôres cujos olhos já nada além da cegueira vêem á demasiadas gerações. Este Deus, este mutante inexistente e omnipresente, já muitas caras tem. E cada uma mais lastimosa que a anterior. Como se em vez de ascender ás nuvens se enterra-se nos próprios excrementos a fim de nenhum outro Deus se ousar a conquistar o seu rebanho, tal é o fedor, a podridão deste espirito.
Bem, realmente desempenha bem o seu objectivo.
E realmente, não será esse o objectivo ultimo de Deus?
O de degenerar o nosso corpo ao ponto em que nenhum outro Deus conseguirá ou sequer tentará entrar?
Puros seria-mos então. E talvez então, cegos com a mesmo inexistente loucura, renascêssemos, eis o objectivo ultimo de Deus. Domar o ser a fim de este renascer (?). Então Deus deseja a sua própria perda?
Claro que sim! E Claro que não! Porque Deus existe e já não existe ao mesmo tempo! "Deus Morreu mas o seu cadáver permanece insepulto!". (...)

Quando "acordo" (ou adormeço) nova e gradualmente para a "ditadura da realidade" sinto uma coisa estranha. Como se tudo o que havia escrito fosse falso e verdadeiro simultaneamente, não para os outros, mas para mim mesmo.
Afinal o que desejo eu? - Pergunto-me.

Não sei. Mas como o Zaratustra de Nietzsche (ou o Nietzsche de Zaratustra?) falava:

"Se a tua virtude for demasiado elevada para usar um nome familiar, e se te for necessário falar dela, não te envergonhes de balbuciar. Fala então e balbucia: "é ao meu bem que amo, só assim me agrada, é assim que compreendo o Bem.
Não o quero de modo algum como mandamento de um Deus, não o quero de modo algum como instituição nem necessidade humanas; não o quero de modo algum como guia que me oriente para regiões transcendentes ou para paraísos.
Aquela que amo é uma virtude terrena, não há nela malícia alguma, e também não possui muita razão comum.
Mas é uma ave que construiu o seu ninho em mim, por isso lhe quero e acaracio - incuba em mim os seus ovos de ouro."

"...pedirei, porém o impossivel; pedirei, pois, que a minha Altivez caminhe sempre a par da minha Sabedoria. E se um dia a minha Sabedoria me abandonar - ai!, agrada-lhe tanto fugir! - possa então a minha Altivez voar com a minha Loucura!" - Assim começou o declinio de Zaratustra.