quarta-feira, 20 de outubro de 2010

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O principal motor que faz com que continue com este blog não será certamente as centenas de pessoas e milhares de comentários construtivos que inundam este espaço como podem constatar, mas sim uma necessidade de aceder facilmente a uma espécie de "diário", onde tento afigurar o meu "Deus inconstante" em palavras que poderei Eu, mais tarde, re-ler novamente a fim de tentar compreender-me melhor e achar palavras que defendam e afirmem este meu incógnito desejo, esta minha percepção instável.
Desejo com isto não me deixar levar pela alienação consumista e marasmática existência que domina maior parte das pessoas com quem contacto (infelizmente), apaixonando-me pela minha loucura, se lhe posso chamar tal coisa...
Esta loucura, esta poesia, este estranho e oculto misticismo a que chamo de "MEU Deus" é o que me delicia a alma, e paradoxalmente, o que a atormenta, levando-me á exaustão racional e a um inconfortável estado de espirito. Mas reivindico isso, pois desejo compreender-me, a fim de me libertar do falso ser que no meu corpo plantaram á 18 anos e uns trocos.
Falso? Porquê falso? É um Ser não é?
Sim, e bem real como qualquer outro. Falso pois o repudio, não a ele, mas ao seu Deus, que em vez da terra deseja a doença, o poder, a atenção, o respeito, nesse pódio gigante chamado de vida onde os mais fracos e ingénuos se arrastam sob o peso do jugo dos pastôres cujos olhos já nada além da cegueira vêem á demasiadas gerações. Este Deus, este mutante inexistente e omnipresente, já muitas caras tem. E cada uma mais lastimosa que a anterior. Como se em vez de ascender ás nuvens se enterra-se nos próprios excrementos a fim de nenhum outro Deus se ousar a conquistar o seu rebanho, tal é o fedor, a podridão deste espirito.
Bem, realmente desempenha bem o seu objectivo.
E realmente, não será esse o objectivo ultimo de Deus?
O de degenerar o nosso corpo ao ponto em que nenhum outro Deus conseguirá ou sequer tentará entrar?
Puros seria-mos então. E talvez então, cegos com a mesmo inexistente loucura, renascêssemos, eis o objectivo ultimo de Deus. Domar o ser a fim de este renascer (?). Então Deus deseja a sua própria perda?
Claro que sim! E Claro que não! Porque Deus existe e já não existe ao mesmo tempo! "Deus Morreu mas o seu cadáver permanece insepulto!". (...)

Quando "acordo" (ou adormeço) nova e gradualmente para a "ditadura da realidade" sinto uma coisa estranha. Como se tudo o que havia escrito fosse falso e verdadeiro simultaneamente, não para os outros, mas para mim mesmo.
Afinal o que desejo eu? - Pergunto-me.

Não sei. Mas como o Zaratustra de Nietzsche (ou o Nietzsche de Zaratustra?) falava:

"Se a tua virtude for demasiado elevada para usar um nome familiar, e se te for necessário falar dela, não te envergonhes de balbuciar. Fala então e balbucia: "é ao meu bem que amo, só assim me agrada, é assim que compreendo o Bem.
Não o quero de modo algum como mandamento de um Deus, não o quero de modo algum como instituição nem necessidade humanas; não o quero de modo algum como guia que me oriente para regiões transcendentes ou para paraísos.
Aquela que amo é uma virtude terrena, não há nela malícia alguma, e também não possui muita razão comum.
Mas é uma ave que construiu o seu ninho em mim, por isso lhe quero e acaracio - incuba em mim os seus ovos de ouro."

"...pedirei, porém o impossivel; pedirei, pois, que a minha Altivez caminhe sempre a par da minha Sabedoria. E se um dia a minha Sabedoria me abandonar - ai!, agrada-lhe tanto fugir! - possa então a minha Altivez voar com a minha Loucura!" - Assim começou o declinio de Zaratustra.

3 comentários:

  1. Obrigada pelo comentário que me fizeste, embora não tenha percebido exactamente o que querias dizer quando afirmaste "afinal há mais".

    Gostei deste texto, acho que também começo a perder o medo de balbuciar, sempre dá para libertar muita da loucura que existe.

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  2. Nunca deixes que essa loucura se vá. Porque é isso que te vai permitir sobreviver no nosso meio, como tu próprio. É a loucura que te dá essência, que te torna único.

    Bia Sousa (ou apenas Sousa)

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  3. O Meu Deus sou eu e os meus. Os que estão comigo, me ouvem e me falam.

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