quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

tanto para te dizer
tanto para te dar
tanto, tanto, tanto...
tanto para me dizeres
tanto para me dares
tanto! tanto!! tanto!!!

tu
eu
nós
neste espaço e neste tempo
potencial infinito de transformação
absorvidos na existência de cada um
e depois sugados para uma única:
a nossa

tu, com o teu pesado universo às costas
eu, com o meu pesado universo às costas

mas nós, apenas sob o peso leve dos nossos corpos
numa infinita viagem pelo nosso infinito intimo
apenas nós, eu e tu
num micro eterno retorno

envoltos numa energia demasiado gratificante
que potencialmente nos mataria no futuro..
mas nesses deliciosos minutos, (horas, desejo..) (dias, fantasio!)
de pura simbiose
tudo o que existiria
seriamos nós
tu e eu

pudéssemos morrer em tal êxtase


















(perdoai-me benditos herois e contadores de velhas histórias, perdoai-me mas não me leveis convosco. prefiro ficar por aqui, onde quer que isso seja aos vossos olhos)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

breve desabafo

A nossa doença é sentir demasiado intensamente as coisas, ou melhor, querer sentir demasiado as coisas. Fantasiar infinitamente algo, construir as mais belas, complexas e perfeitas ficções sobre algo, e perdidos nesta fantasia esquecemos o agora, o concreto, o "real" (por muito que me custe chamar-lhe tal coisa), e encontramos o sustento emocional não nas nossas relações concretas e reais mas nas nossas fantasias e utopias. Depois, confrontados com este lamentável e deprimente facto a angustia aumenta e recolhemo-nos para a nossa solidão, encenando aqui e acolá certas mensagens subliminares que já estão completamente desconectadas da relação pessoa-pessoa, que apenas servem para prolongar a nossa miséria e angustia e alimentar este "monstro". Criamos esse monstro para termos algo concreto para nos podermos defender, para justificar a própria miséria. Entretanto já as nossas relações estão destruidas, ou pelo menos destinadas ao falhanço... Que coisa mais triste, que raio de fenómeno ou momento nos incutiu tais instintos autodestrutivos??
Se acreditas ou sentes algo não o fantasies, comunica-o, expressa-o, não procures consolo na fantasia, é a melhor droga que existe (se me faço entender).
Pronto, abraços.

domingo, 11 de janeiro de 2015

O Vale da Estranheza - Parte 1

O pequeno riacho estava particularmente calmo nessa noite fria. Uma fina nuvem de nevoeiro flutua sob a água gelada, e, por incertos mas certamente compreensíveis fenómenos atmosféricos, tingida de um azul que conferia ao espaço qualidades de uma ordem subliminar. As cigarras cantavam, um leve vento acariciava as árvores, e uma pedra torta elevada acima do nível da água fazia a mesma cantar o mais suave chapinhar. Enfim, os mais místicos fenómenos pareciam ter sido convocados por qualquer força desconhecida para aquela noite de particular poesia. Talvez fosse deus, inspirado pelo seu tédio, a experimentar e assemblar um novo microclima naquele vale esquecido entre a serra, nessa cortante noite de inverno. 

Um qualquer pássaro, certamente preto e de porte considerável, lança um pio que descobre no seu eco novas propriedades sonoras, mas antes de o mesmo ter tempo para fantasiar sobre o seu inédito repertório resolve levantar voo, desapontado: afinal era um carro que se aproximava ao longe e espalhava pela serra o som do atrito entre borracha e o alcatrão e ainda frequências mais graves, ritmadas, qualquer tema musical de sucesso. De qualquer forma, em breve toda a pauta musical daquele cenário entraria numa inesperada cadência, composta por sons de peças metálicas a rangir, vidros a partir, uma massa pesada a rebolar ao sabor das leis da física, um muro de pedra a ruir e um final estrondoso de água a chapinhar. 

Além do rio que ficou mais agitado, o tema inicial daquele idílico cenário retomou indiferente o seu compasso, enquanto um jovem humano, com o corpo quebrado, se arrastou pela gelada água até à margem do riacho onde se esforçaria por recuperar o fôlego e a consciência.

(a continuar)





sábado, 10 de janeiro de 2015

Limerência (Que bom conseguir chamar as coisas por um único nome, ocupa menos espaço na memória)

la la la la la

já não sei, já não sei, já não sei!
tou como o outro: Fritei!

la la la la la

queria querer fugir 
desaparecer, sumir!

la la la la la

mas que consolo é coçar a ferida!
talvez esperar e coçar seja a melhor saída

la la la la la

não, miserável! presta atenção!
acorda dessa lamentável obsessão!
embora os motivos te escapem à razão
esquece por uns tempos teu enfermo coração!

LA LA LA LA LA, O CARALHO! 

...

Conseguirás?

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

asdomasdasdasdade

vagueio pelas ruas, praças e cafés
com o corpo animado por um estimulo fugaz
ás vezes claro outra vezes escuro
risos, piadas, conversa e alguma cumplicidade
algum à vontade para fazer o inesperado
mas os risos acompanham, bem hajam
os risos e as personalidades
cada qual com o seu mundo às costas
mas cada qual pousa a mochila aqui e acolá
para descansar
e rir um bocado
um à vontade que qualquer vivência passada consegue rapidamente justificar
porque se viram ou partilharam o mesmo espaço cénico
durante certo e determinado período
determinado sabe-se lá onde e por quem
mas lá há de estar, deixai-o que bem cumpre a sua função
a de permitir, facilitar, potênciar
bendita muleta
bendito alcóol que nos entorpece a razão
até daqueles que de ti não bebem
mais ou menos pesados e melancólicos lá se deixam escorregar também
e rir
pois ri-te amigo!
ri e fala
fala os teus medos e ânsias
os teus projectos e utopias
fala que verás que os mesmos farão brilhar todos os olhos
um brilho de pura cumplicidade
às vezes, por mau hábito, vão querer parecer-te zombadores
ou zombantes, ou o caralho
mas não ligues e permite-te falar
fala e faz os outros rir
e passa a bola
os teus cumplices saberão continuar a jogada
uma táctica incerta, talvez
mas verás que é bela por isso mesmo
perceberás então a natureza mística da estranha e incerta força que ali vos reuniu
e por ali vos orienta e encaminha
qual psicogeografia da cidade
qual caralho...

toda esta merda para dizer
que continuas a não estar aqui

sim, continuas a não estar aqui

estou cansado, mesmo genuinamente cansado, poesia à parte
de vaguear entre moods
ora é belo e romântico
ora é triste, fraco, torpe, viciado
ora tudo está encaminhado e bonito
ora está tudo uma merda que estagnou
e não há nada mais triste que um amor que não brotou na sua hora
talvez haja, mas agora mesmo não
como certa primavera aquela flor ter escolhido não rebentar
por ânsia de ver como seria a próxima primavera
entretanto já o verão te matou e o vento do inverno te levou
(não deixes que o inverno nos mate!)
sim, germinarás noutro sítio
ou pelo menos alimentarás outras situações
mas, ainda assim, não germinaste...
porquê?
serei assim tão fraco?
tão cego?
será natural este sentir?
este tormento diário
qual demónio ou maldição
qual perfume ou prazer

estes choques estão a matar-me
estes choques estão mesmo a pôr-me louco
e estou a adorar, qual sado-masoquismo

por outro lado rejuvenescem-me
estou praqui a escrever
lalalalalalalala
para ninguem
com que esperança?
com que objectivo?
sinceramente, que tambem a ti te alimentem uma fantasia
igualmente prazerosa e dolorosa

escrever numa parede
frases.........

espera

tu não fazes ideia, nem em sonhos, que isto se está a passar
mas eu continuo a jogar
a jogar ao esconde-esconde com a minha sombra
metáfora de merda
merda de merda
já dizia o sábio: tudo merda

consola-me, riso
salva-me









domingo, 4 de janeiro de 2015

os miseráveis

choram uma liberdade roubada
choram a sua condição
choram, pobres,
choram até mais não!

quanto me cansa este choro!
como é que é ele capaz
de encontrar consolo e confirmação
no pesado jugo que às costas trás?

pobre alma penada!
quanto lamento a tua sina
caíste no mundo num dia chuvoso
mas aguarda, um vento se aproxima!

ei-lo no seu esplendor!
a gritar amor do fundo do coração
ei-lo, misterioso navio
entra, meu irmão!

mas quando o vento os sacode
e grita para que saquem das espadas
gelam-se-lhes os ossos
sentem suas lágrimas cobiçadas

e o choro transforma-se em conforto
e cada um fica como que morto
a chorar para que o vento passe
e não o arrranque do miserável porto

onde, chorando, livremente se atracou
e onde, chorando, livremente ficou

pois que chore e lhe alegre então
sua eterna e lamentável escravidão!

pois eu choro também
choro minha solidão


sábado, 3 de janeiro de 2015