quarta-feira, 24 de abril de 2013

imp - pobres dos que não sentem medo

O desconhecido seduz-me
o breu perfume o ar
sons inesperados inquietam-me

e fazem-me querer ter medo deles

avanço, contudo.


Não percebo porquê, ou como,
o medo não me impede de andar,

vejo-o como um mistério
que pode ser desvendado com um simples olhar.

Olho e avanço,



imagens de natureza perturbardora regalam a minha ávida curiosidade,

embebedam a minha razão,

despertam a minha embrutecida coragem,


ou será indeferença que desperta em mim?
Indiferença perante esse horror, que não me toca.

talvez assim possa falar com ele, e perguntar-lhe:
Afinal o que és tu que produzes o medo?
Ou és a minha mente, ansiosa por interpretações misticas,
ou alguém, mascarado,
ou esse real horror que é a natureza
a selva
o selvagem
o escuro
que não se vê mas se sente,

cheira,

ouve,

pisa.

A minha razão já não sabe bem de que serve o medo, o horror, porque acho que começo a saber aprecia-lo, nessas viagens pelo desconhecido.

Mas eu sinto-o, oh sim! Como um acido a corroer-me as veias e embrutecer-me os membros.
calafrios pela espinha abaixo. Sinto a morte, o nada para que posso subitamente ser sugado,
sabe-se lá porque força. Mas a moral não me move, descarto o que me "ensinaram" a respeito do medo, nomeadamente, respeitá-lo, teme-lo, porque sim.

Nada me pode matar, apenas a natureza.
Nenhum espirito ou fantasma ou besta desconhecida me vão assaltar, numa noite escura nos bosques densos.
Se o fizerem saberei que não me querem mal, porque fui eu que os criei (?).

Nunca antes senti este medo.
Este é diferente.
Este não me faz querer fugir, desesperado,
faz-me querer senti-lo ainda mais.
Para depois o deixar, e voltar para a outra vida.

Estendo a mão, na escuridão, convido esse vulto que me persegue.
Estive com ele, não sei do que falamos, nem se falamos.
Mas estive. Mas não sei o que senti sequer.
Sim, senti medo.
Mas não fugi.
Apenas quando me acordaram, fugi.
Veloz.
E quanto mais longe estava, mais sentia o medo que não senti quando estive com ele.
É estranho. Olhei-o e vi-o outra vez, ao longe.
Desviei o olhar e entrei noutro mundo.
Agora aquele local é povoado por fantasmas.
Assim estes nascem.


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