sexta-feira, 8 de abril de 2016

O ar está diferente

O ar está diferente
As coisas de súbito perderam a banalidade
Como se o planeta tivesse começado a rodar na direcção contrária
E acidentar-me a novos ventos, desta vez como que a favor deles

Hoje vi uma cadeira ao sol
Ao lado outra
O som de uma máquina a moer café
Um transeunte a saudar as pombas
Uma música ao fundo da rua, vinda de uma janela
Uma brisazinha
O sol, Ahh, o reconfortante sol, bem lá em cima num admirável céu azul. Que azul incrível!
Sentei-me e banhei-me de vida, que saudades!

A deriva parece estar a rotinar-se
Há coisas estranhamente familiares na rua, intrigantemente reconfortantes
A poesia voltou!! Estarei a sonhar?
Ou pior, estarei apaixonado?!
Não...

Talvez seja alguma benção da primavera
Talvez o tinto maduro
De certo será a luz

Entretanto a noite chegou, calma, tranquila
Os carros, as pessoas nas esplanadas
A desordem ganhou uma ordem
E na noite banal brilha novamente aquele misticismo
aquela poesia tão deliciosa como indiscritível
Aquela sensação de novidade,
de entrar num universo que não é o nosso,
tão acolhedor, espontâneo e autêntico…
que sensação maravilhosa

Bendita volatilidade da alma!
Bendita primavera!

Bendito ar, que está realmente diferente!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

notas sob(re) o mar

nao tenho mais moral
nem aquele ardor poetico

nao tenho quaisquer expectativas
em relação a coisa alguma

nem mesmo medo ou sensatez, tão pouco probidade ou razão
nada, apenas admiração pelo mar

sinto que perdi um sentido
ou parte da consciência

a minha memória também parece ter-se autonomizado de mim
trabalha por conta própria, serve outro mestre qualquer...

as vezes acho que estou completamente à deriva
suspenso por um fio enquanto o mundo roda sob os meus pés, imprevisivel

e eis-me aqui, a vê-lo a rodar, eu, a minha individualidade
eu, tão só e somente eu, e o meu corpo inanimado

vejo e sinto o vento soprar, lá do longe
da ponta de um horizonte até à outra

vejo os limites fisicos da paisagem
e, povoando os espaços vazios, corpos agitados a gesticular e emitir sons

o que antes parecia tão cheio de sentido e misticismo
agora é apenas um superfície que reflecte luz

o potêncial de significação ainda está lá, certamente
e quão belas as histórias que inspira e sugere!

mas... para quê contá-las se elas não forem vividas?
talvez afinal não seja um bom actor, ou um bom humano no geral

o mar está horrivelmente pesado e agitado
o horizonte está infinitamente negro, o oxigénio está salgado

o mantra sonoro do mar perfuma o ar de bruta violência e caos
este manto pesado castiga a costa, atrai os curiosos pela morte, inspira um respeito arcaico

é pena nenhuma outra alma ter vindo admirar este colosso
quão bela e sublime a sua devastadora força...

fico feliz por ainda sentir este encanto
e percebo o porquê de estar no mar

nas profundezas abismais da terra
nos insondáveis vazios do cosmos

onde a luz ainda não chegou
no desconhecido

em breve o sol nascerá,
outra, e outra, e ainda outra vez

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Diary of a Good Ignorant #1

the modern world of information poses a challenge to the human sense
and i wonder: if one learns to be selective and coherent, maybe he's becoming an ignorant...
for he is following one path from hundreds of others, he's deliberatly discarting or avoiding certain kind of "acknowledgements"... therefore not experiencing other configurations of the real.
BUT MAYBE, just maybe, there is some kind of "good" ignorance one can discpline oneself into. 
Some people call it philosophy, others religion, others even call it style.
but one must know the difference between this so called "good ignorance" and alienation.
the amount of information one deliberatedely ignores draws the frontiers of ones sense of freedom
a sense of freedom is perhaps a sense of wiseness.
You know, what is good about being an ignorant?
You dont suffer. As much...
A good ignorant is not a coward, maybe he seems selfish, but he is simply a man who has the godess hability of not giving a damn, as time somewhow does




sábado, 5 de dezembro de 2015

o homem que recomeçava e regressava para o mesmo, e o amanhecer que entretanto ainda não chegou

estava a recomeçar,

a noite avançava
já não com a típica lentidão
mas antes, apressada
o sol ia nascer, eventualmente
as pessoas iam embora, eventualmente
cada qual para o seu conforto
cada qual com o seu parceiro
sim, o sol ia nascer, eventualmente...
isso deixava-o ansioso, receoso...
mas la ia, arrastando-se

o ar estava denso de humidade
a humidade estava laranja das luzes da estrada
a estrada estava negra, riscada de sombras pesadas e rostos viciados
la continuou, "ainda é cedo", pensou
mas não conseguiu iludir-se
o velho truque perdia o efeito
vai amanhecer rapidamente, sem dúvida...

os corpos dançavam, loucos, em extase
outros corpos estavam mortos
apenas olhavam e faziam sons com a boca
palavras desconexas, improvisos decorados
o piloto automático de quem não tem mais força
ele estava sem força, mas não conseguia falar
preocupava-o mais o amanhecer
esse guardador de rebanhos, analgésico, purificador

e se o sol não nascesse?
aí sim, apesar do titânico e inexplicável caos
ele estaria seguro, capaz, confiante, apesar da promessa de morte súbita
sentia-se o homem mais capaz de lidar com o desconhecido,
o inesperado, o irreal, uma força cósmica negra
devastadora, capaz de desconstruir o tempo e as dimensões
quanto a desejava... com que medo e desejo olhava para o ceu negro
e o imaginava a contorcer-se, a implodir e dilatar
a devorar todas as concepções do possivel

a puta da ultima paragem do autocarro é sempre a mesma
plantada à beira do mar, vasto, pesado, salgado, negro
os sons começam a soar familiares,
ainda o dia não nasceu, e já se lamenta
outra vez isto...
outra vez estes sons, estes passos, este caminho
outra vez esta humidade salgada, esta melancolia,
outra vez esta solidão, estes lábios gretados, este joelho queixoso
outra vez a recomeçar o mesmo começo outra vez..

porque te mexes, corpo? para onde me estás a levar?
o que queres? descansar? desgraçada máquina biológica..
porque inspiras e anseias tu mais do que podes sentir?
anseio, finitude, solidão, recomeço...
que triste deve isto ser
aos olhos dos olhos saudaveis
que nao temem o amanhecer

pudesse um dia o dia não nascer
e ser devorado, rasgado,
engolido por um desconhecido prazer
só pela curiosidade de sentir não temer o amanhecer
nahh, que se foda a curiosidade, é só mesmo pelo prazer, e pela raiva
pelo orgasmo e a destruição
frio, doentio, blasfémico

estou a regressar



memoria cantada do medo do infinito recomeço e regresso, por um homem que regressava pela estrada, (des)animado sabe lá porque força, talvez apenas sede de poesia. ainda assim não conseguiu escrever o que queria, mas aqui fica o rascunho de algo, um improviso sem ambição, um exercicio de imaginação, uma prova de pobreza verbal, uma experiência de imprevisto, acidente, espirali niilista, formalismo, #comunicação, uma merda qualquer
estou farto de ti

https://www.youtube.com/watch?v=hkATLofJohE




quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

nos tal gia

o homem sentou-se ao fim do dia
cansado, viciado, sozinho
lembrou-se de um dia em que se sentiu feliz
um dia em que acordou mais cedo, sem sono
todos estavam a dormir no chão, envoltos em cobertores e almofadas
aconchegados, leves, felizes
talvez todos juntos num só sonho, em aventuras
ela também estava lá, dormia como um anjo, linda
o vermelho do cobertor envolvia-a num calor perfumado apaixonante
as luzes de natal iluminavam tenua e calorosamente a sala
iam acendendo e apagando em fade, num ritmo lento alaranjado
o dia estava a nascer, calmo, lento, limpo
lembrou-se de pôr uma música, baixinho
foi a felicidade que lhe tirou o sono, apercebe-se
estava demasiado feliz e apaixonado para conseguir dormir
que emoção, que memória tão linda e gratificante

e agora
agora está cansado, viciado, sozinho
mas lembrou-se daquela música
e a felicidade voltou, engomou-lhe o sono e secou-lhe a mágoa

vai dormir e sonhar agora
depois de um cigarro, claro...

ai ai...

https://www.youtube.com/watch?v=V4hvB3sTqCw

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O meu sonho é ir para fora... Do planeta! + carta para a NASA ou qualquer organização de exploração espacial

"A terra é o berço da humanidade, mas ninguem pode viver no berço para sempre" 

Konstantin Tsiolkovsky

Concordo Plenamente. A raça humana é um organismo demasiado fantástico, um acontecimento universal demasiado raro e notável, e teve uma mãe fantástica, como muitas poucas há no universo, a Terra, esse maravilhoso paraíso de vida. Quem diria que o pó das estrelas se iria unir e orbitar uma estrela à distância perfeita para fazer proliferar... VIDA! O próximo passo deste novo elemento é expandir-se, colonizar novos espaços até, finalmente, encontrar outras raças que tenham tido berços igualmente fantasticos para poderem desenvolver ferramentas igualmente poderosas. E aí juntarem-se para continuar essa conquista universo fora, rumo ao infinito desconhecido, para sempre, até ao fim do tempo. É tudo uma questão de tempo...

Cara NASA ou organizações de exploração espacial, se precisarem de alguém que vá viver para Marte (ou para qualquer outro planeta que tenha uma atmosfera e me dê um nascer e pôr do Sol, dias e noites) e que tenha skills a filmar, fotografar, e tocar alguns instrumentos musicais, eu vou DE GRAÇA (tambem de pouco me valia o dinheiro lá.. Mais um motivo!) E se a viagem não tiver regresso certo, ou for mesmo só de ida, EU VOU NA MESMA, desde que: me deixem levar uma guitarra ou um piano; a missão tenha uma componente agricola e de colonização da terra, tipo plantar batatas ou construir abrigos/casas e canalizações para preparar o habitat para os próximos conterrâneos; me vão mandando filmes, fotos, livros e musicas da terra; e que me acompanhem algumAs Astronautas a quem possa dar amor e procriar!

Mas antes disso queria 2 anos de férias por todo o mundo...

Se hoje tivesse a legitimidade de uma criança para dizer qual era "o meu sonho", era este.

(Perdoem-me feministas, filósofos, politicos, etc... Não estamos aqui nesses registos... No fundo sou um animal, uma besta selvagem. Somos todos... Uns mais domados, outros menos... Eu tento domar-me apenas quando preciso, e libertar a minha animalidade.. quando preciso! e cada vez mais a mesma só se expressa na escrita destas coisas, por isso não me venham com merdas e juizos e criticas! venham antes com os vossos sonhos! =D
 ser adulto é uma seca... ja nem consigo escrever sem adoptar uma postura defensiva... POKERALHO JUIZES)


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

god help me

I still dream with you
and I dont want to

I wish you disappeared
but I dont want to